quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Eugenia

In Overy, Richard - 1939 Contagem Crescente para a Guerra

Leio na Wikipedia que Eugenia é um termo criado por Francis Galton, que significa bem nascido, na acepção de Galton, eugenia seria "o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente".
O nazismo irá pôr em marcha a eugenia como forma de purificar a raça ariana. Não deixa de me surpreender que poucos dos ideólogos nazis, Hitler, por exemplo, fossem exemplos ideais desse arianismo!
Não sei até que ponto é que a eugenia nos choca, hoje. Seremos rápidos a criticar e condenar a eugenia nazi, mas a sociedade em que vivemos está a começar a ser eugénica.
A imperfeição genética é o suficiente para que muitos parem uma gravidez até aí desejada. Não me quero colocar na sua pele, mas será lícito achar que alguém com Trissomia 21 não tenha direito a viver? Conheço algumas pessoas com Trissomia 21, que são pessoas como eu, com algumas diferenças, claro, mas são pessoas como eu. São felizes, ativas na sociedade, ainda que com algumas "limitações". Mas terei eu o direito de os condenar a um fim antes do nascimento?
O sonho de alguns é poder escolher não somente o sexo do filho, mas também a cor do cabelo, dos olhos, quem sabe se daqui a alguns anos o peso, o QI e a inclinação sexual.
O Henrique Raposo escreve e explica melhor do que eu.
Ao fazermos um filho estamos a criar vida ou a espelhar-nos nele? Não será o aborto nestes casos uma forma extrema de egoísmo? Não consigo deixar de pensar na máxima do Gustavo Santos, Ama-te, se calhar estou a ser injusto, mas depois de ter investido uma hora e meia a ouvir uma entrevista com ele, não consigo deixar de ampliar o pensamento dele. Se algo não me faz feliz, se não é o caminho que quero para mim, não o devo fazer. De alguma forma, esta é a base atual deste tipo de eugenia, seja por medo (de falhar, de não conseguir, da sociedade, da piedade alheia), por vergonha, por achar que aquela vida é inferior, por achar que aquele ser não será feliz ou completo, acho-me no direito de impedir uma vida.



E o segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes. 
Marcos 12:31




Leio um pequeno livro de história de Richard Overy sobre os dias que antecedem a II Guerra Mundial. A páginas tantas, o excerto acima fotografado.
Sorri e identifiquei-me com Mrs. Chamberlain. Na iminência de uma guerra, na iminência de sofrer bombardeamentos, na iminência de ter de se refugiar em abrigos subterrâneos, a preocupação dela, uma delas, pelo menos, é escolher e carregar um cesto de livros.
Não sei o que terá pensado, mas acredito que a ideia de estar fechada durante algum tempo lhe pareceu ilógica sem a presença e companhia de livros. Terá demorado algum tempo a escolhê-los? Terá sentido a pressão de se apressar? Ignoro.
Mas identifico-me com a presença de páginas para atenuar o tédio, o medo, a incerteza.
O Primeiro-Ministro Chamberlain é uma figura que divide opiniões, figura que Overy tenta explicar e de alguma forma contextualizar. De qualquer forma, já ganhei simpatia pela esposa. Que livros terá ela escolhido?

In Overy, Richard - 1939 Contagem Crescente para a Guerra