sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Dias Selvagens

Escolho Wong Kar-Wai (de que ainda só tinha visto Disponível para Amar) e vejo Dias Selvagens.
Dias Selvagens é um filme parecido (no que à realização diz respeito) a Disponível para Amar. Há, inclusive, sets extremamente parecidos, e a entrada em cena, no fim, de Tony Leung é a cereja em cima do bolo.
Há outras marcas típicas, o existencialismo que prende e paralisa as personagens, a forma sui generis de realizar, o andamento lento, mas seguro, e os comentários pessoais de algumas personagens.
O que para algumas pessoas será um filme chato, mais do que os de Manoel de Oliveira, para outros é uma pérola. Ainda que tenha gostado mais de Disponível para Amar, também gostei deste, e a vontade de ver o resto da cinematografia está mais cristalizada.
A História
Leslie Cheung é York, um homem fechado em si, que tenta, a todo o custo, que a mãe adoptiva lhe diga quem é a sua mãe real. Algo que ela sempre foge. York vive no meio de mulheres, gosta de ser o centro delas. Não há aqui amor, mas uma noção narcísica, antes. Já que acaba por as trair, vez após vez.
So Lai-Chun (Maggie Chueng), apercebe-se disto, que York só gosta dele mesmo e acaba por fugir dele, e esquecê-lo (tentar). Inicia uma relação platónica, que nunca se irá concretizar, com um polícia (Andy Lau).
York continua a sua senda pelo universo feminino, e inicia uma relação com Mimi. Também esta será terminada, mas terá que resolver a atração que um amigo de York (Jacky Cheung) sente por ela.
Pontos de interesse:
Qual é o objectivo do filme? Não me parece que haja outro que não o de mostrar o existencialismo de uma forma cinzenta. O que comanda o filme são as emoções humanas, as lógicas e as menos lógicas.
Não há finais felizes, cor-de-rosa. Não há moralismos. O fim de York é comandado por uma mulher, o que não deixa de ser irónico, já que ele acaba por fugir delas ao longo de todo o filme, perseguindo só a sua verdadeira mãe.
E este poderá ser um dos maiores problemas para alguns dos espectadores. Kar-Wai não é comercial, antes doloroso, mastigado e negro.
Mas Dias Selvagens lembra-me um outro aspecto, a arte de contar uma história. Hollywood sabe contar histórias, infelizmente, muitas vezes, ficam para segundo plano.
Dias Selvagens faz o contrário, não sem um certo esforço por parte do espectador.
Mas não estou a dizer que conta a história de uma forma sequencial, lógica, ordenada, estruturada. Paradoxalmente, o que conta menos aqui é a história, mas antes os sentimentos, as dúvidas dos personagens, mas essencialmente do espectador. Antes de contar uma história é um exercício de montagem, que é exigido a quem o vê.
Outro aspecto a salientar é a forma como os actores se portam. O realizador optou por agarrar em actores conhecidos, com uma certa escola de representação, e fá-los esquecer todos os hábitos e conceitos interiorizados. O filme é nu, cru, e despido de formalismos técnicos que não os da realização e das escolhas dos ângulos. O que merece o aplauso, dirigido, primeiramente, ao realizador, mas também aos actores.
Há outros aspectos a ter em conta, a luz, por exemplo; o temática de tempo, presente na obra; as dificuldades em escolher e os martírios da escolha; o erotismo velado, sem que haja uma única cena de sexo ou mais erótica.
Concluindo, gostei, menos do que a experiência anterior. E considero que não será para todos. De qualquer modo, um filme extremamente interessante. Para quem não gosta de Kar-Wai, esqueçam…

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Dizem que os olhos são a janela da alma.
Não sei se serão, provavelmente por descuido e impossibilidade de analisar as almas.
Mas há olhos que nos prendem. Pela forma como enquadram um rosto, pela tristeza ou felicidade que deles emana, pela timidez ou coragem, porque sem olhos seríamos bem menos expressivos.
E lembro-me dela, a entrar na sala, num passo tímido, com os olhos em baixo.
Dela à procura de uma cara conhecida, em vão.
E enquanto ela percorria a sala, os meus olhos tentavam percorrer os seus, ciente de que não me via.
Via o nariz pequeno, bem desenhado, o cabelo castanho, pelo ombro, o vestido justo ao corpo, mas não demasiado justo, e a timidez, que de tão grande a vestia segunda vez.
Ela olhou-me, nos olhos, um segundo, menos que isso. Sentou-se numa das cadeiras, e ali ficou.
Numa folha de papel somos que quisermos, como quisermos. Num conto somos valentes e corajosos. Na vida real, na vida real temos medo do outro.
Fiquei mais algum tempo ali. Olhando para ela, de costas para mim. Imaginando aquilo que poderia ver, se quisesse. Os olhos dela.
Saí, e voltei a casa.
Num conto podemos inventar futuros, realidades, possibilidades. Na vida real amaldiçoamos a cobardia, e os momentos que deixamos passar.

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

ícaros

Crio asas
com a possibilidade
de voar
de cair
lá de cima
num ímpeto, como fogo fátuo
apagado
pela areia
pela água
pela força da realidade de outra natureza que não a minha.

Como Ícaro quero fugir,
ir além do presente, voar acima do
pó…
O Sol teme o humano,
queima a alma do falso pássaro
transformando em cinza a falsa ave.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Southern Bastards


Southern Bastards Vol. 1 – Aqui jaz um homem de Jason Aaron e Jason Latour

A primeira imagem de Southern Bastards (SB) é a de um cão a defecar, e três cartazes de Igrejas atrás dele. Bem-vindos ao Sul, ao Sul dos EUA, ao Bible Belt, estranhamente a Igreja não é o foco, ou sequer alvo da atenção, deste primeiro volume. A religião no Condado de Craw é mais o College American Football do que o cristianismo, ortodoxo ou não, e deus, ou o diabo, está presente na figura omnipresente, mas pouco participativa do Coach Boss.

O cão ladra, numa vinheta avermelhada. O fundo vermelho preenche alguns dos quadrados/vinhetas, marcando a violência, a ira e as memórias.

Earl Tubb regressa à cidade onde cresceu, no Alabama, para esvaziar a casa de um tio. Uma missão rápida que é interrompida quando um dos habitantes da cidade, Rusty, é ameaçado e Earl intromete-se.
“Quanto mais tempo aqui passo, mais me lembro porque fui embora e nunca voltei.”, diz Earl num telefonema, tenta apressar a tarefa, mas a morte de Dusty e uma “mensagem divina” vinda de um raio (até parece que Aaron escreveu o deus do trovão, Thor!) levam-no a deixar de fugir, a tentar fazer justiçapelas próprias mãos, já que o Xerife está manietado.

SB é uma história sobre figuras paternais, dominadoras e sobre a (in)acção a essas figuras. Earl fugiu, da cidade, do pai, preferiu a guerra do Vietname a ser subjugado por uma determinada forma de poder, fugiu sem conseguir fugir da sombra do pai. Também o condado de Craw soçobra sob a sombra de Coach Boss, uma figura nas sombras, presente nas bocas de todas os habitantes, que age em todo o “esplendor” na parte final da história.

Neste primeiro volume entramos em Craw, um condado dominado pela equipa de futebol, que se rege segundo a lei do seu treinador,   dono de toda a cidade e que a domina a seu bel-prazer, incluindo a justiça. SB é sobre apatia, sobre fuga, sobre justiça, não é uma história bonita, o traço de Latour ajuda e de que maneira o argumento de Aaron; o traço não é esteticamente belo, e as cores secas predominam, com o vermelho a saltar-nos à vista em determinadas cenas.  Graficamente, este primeiro volume entra-nos pela retina adentro com violência.

O cão pára de ladrar, de rosnar, de agir violentamente, cheira, simplesmente, a morte, o cão da morte a bafejar.

Aqui jaz um Homem, Volume 1 de Southern Bastards, é editado pela G. Floy Studio, custa 9.99€.

Altamente Recomendado

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Inteligência Humilhada de Jonas Madureira


Os paradoxos cativam-me, algumas contradições também, já agora, mas ter um título em que uma das coisas que mais exaltamos ou desejamos se encontra lado a lado com uma postura que cada vez menos aceitamos abriu imediatamente o meu apetite.

O que é Inteligência Humilhada?

Na introdução, Madureira diz que o livro é dirigido tanto aos que sacrificam a fé em prol do intelecto, como aos que sacrificam o intelecto em prol da fé, isto é, o termo de Inteligência Humilhada tenta ser um equilíbrio entre dois extremos, o da defesa de que a fé é suficiente para garantir ou avaliar o conhecimento de Deus (fideísmo) e o de que a fé não é necessária para esse conhecimento (racionalismo). Com o conceito de Inteligência Humilhada, Madureira reconhece o papel da fé e da razão para se chegar ao conhecimento de Deus, nas suas palavras, Inteligência Humilhada é então fé que não tem medo de pensar, duvidar ou questionar;  é a consciência da humilhação da razão que nos faz reconhecer o papel fundamental da fé. Madureira trabalha o conceito a partir de cinco autores – Agostinho, Anselmo, Calvino, Pascal e Herman Dooyeweerd.

O primeiro ponto a captar a minha atenção é o da piedade ser uma consequência obrigatória da gratidão e não da inteligência. Tendo como base as Confissões de Agostinho e duas citações de Evrágio Pôntico (“Se és teólogo, vais orar verdadeiramente, se orares verdadeiramente, és teólogo.” ; “A oração é uma conversa da inteligência com Deus.”) defende-se que a teologia só pode ser feita num ambiente de piedade, devoção e amor, ou seja, apenas o regenerado pode amar a Deus acima de todas as coisas, e por isso, conhecê-Lo com profundidade, i.e., há uma   diferença entre falar de Deus e falar com Deus. Madureira, a partir de I Cor. 13:12, inicia a discussão do conhecimento de Deus e do nosso conhecimento por parte de Deus, realçando dois pontos, por um lado, nunca conheceremos Deus completamente, no aqui e agora, mesmo através de mediações ou por causa delas; mas Deus conhece-nos perfeita e directamente.
Se aceitarmos estes pressupostos, então a nossa inteligência já se encontra humilhada, no sentido em que para conhecermos Deus precisamos necessariamente de mediações, nem a nós mesmos conseguimos compreender perfeitamente, no entanto, Deus conhece-nos mais completamente do que nós a nós mesmos. Madureira faz eco do início das Institutas, em que Calvino diz que o verdadeiro conhecimento acerca de nós será sempre fruto da revelação divina e não da inteligência humana. O termo Inteligência Humilhada evidencia o temor e a humildade como os pontos de partida para o conhecimento de Deus.
Packer escreve em Conhecendo Deus, “Preocupar-se em adquirir conhecimento teológico como um fim em sim mesmo, aproximar-se da Bíblia para estudá-la sem nenhum motivo além do desejo de saber todas as coisas é o caminho directo para o autoengano complacente.”
Por isso, quando me conheço a mim mesmo como Deus pretende, o primeiro fruto é a humildade, quando me conhecer bem saberei que devo suspeitar de mim em primeiro lugar.
Madureira termina o primeiro capítulo a diferenciar inteligência de tolice; ainda que tenhamos graus de inteligência diferentes, para o autor, a tolice é inerente a todos os seres humanos. Somos libertos da tolice por uma libertação interior autêntica. Contrariamente ao Platonismo, no Cristianismo o Homem reconhece a sua completa insuficiência e incapacidade para se libertar. “O tolo reconhece que somente um poder infinitamente superior poderá convencer o tolo da sua tolice.”
Acrescentando sentido ao termo, Inteligência Humilhada não é o sacrifício do intelecto, não é a morte da razão, mas o reconhecimento da insuficiência da razão, reconhecimento dado por Deus aos Homens.  “Deus não fala a teólogos, filósofos e cientistas, mas a tolos perdidos em si mesmos.“
“A inteligência não é uma possibilidade, mas, sim, uma realidade, a realidade da criação. A razão humana não deveria ser louvada quando o homem se recusa a humilhar-se diante de Deus. “
“Diante de Deus toda a inteligência criada está sob a condição da humilhação.”

O segundo capítulo continua esta lógica, “O Cristianismo é uma religião que jamais teria passado por nossas cabeças” – C.S.Lewis.
A revelação divina depende de Deus, aquilo que conheço acerca de Deus e dos Seus caminhos é aquilo que Deus revelou, confessar a necessidade de Deus pressupõe já graça. “Sempre que alguém sente realmente vontade de pedir socorro a Deus, isto é, de assumir a sua própria insuficiência, ele já está sob a graça de Deus.” Luiz Filipe Pondé
Ora, se só conheço de Deus o que Este revela, uma das perguntas que se coloca é a da minha capacidade de produzir conhecimento - o autor distingue entre insuficiência e desgraça, ele explica que a insuficiência não é consequência da queda, antes da queda, o Homem já precisava da Graça de Deus para conhecer e agir de modo justo. “A natureza da necessidade mudou, porém, não a necessidade em si.”, Pondé continua, “A teologia cristã nos ensina que a autonomia humana não passa de ilusão, pois o homem foi criado para ser exactamente assim: insuficiente. O que equivale a dizer que o homem é o que ele é, antes e depois do pecado, não porque é um ser sem Deus, mas porque Deus o planejou como uma criatura ´para ele´”.
Se o Homem é uma criatura que deseja Deus, criada para o louvor, com o pecado essa inclinação não desaparece, mas é mal direccionada (Romanos 1:22-23) e choca contra a impossibilidade de conhecer Deus. 
Madureira olha para a natureza através da mediação das Escrituras (Romanos 1:19-21) e conclui que a criação não revela quem Deus é, antes que Deus existe. Hebreus 1:3 e Colossenses 1:15 mostram a diferença entre o carácter pessoal da revelação divina e a impessoalidade da criação, é em e por Cristo que vemos o Pai. A dificuldade em conhecer Deus não está em Deus, mas na nossa incapacidade intelectual caída. O termo teológico é cegueira, o sol pode brilhar, que o cego não o vê.
“A nossa inteligência não foi feita para ser livre. Ela está sempre submissa a alguma cosmovisão. Se Deus não é o Senhor da sua mente, pode ter a certeza de que ela terá outro senhor.” Voltaremos a esta questão no último capítulo do livro.

O capítulo 3 aborda a questão do mal, a Bíblia descreve Deus como todo poderoso e bondoso, realidades diferentes, mas inseparáveis, pode um cristão que acredita neste Deus explicar o problema do mal, ou tentar compreendê-lo a partir da natureza divina? Madureira começa a resposta explicando que o mistério bíblico não é irracional, mas suprarracional, além da nossa compreensão e explicação. Este mistério humilha a nossa razão humana e torna-a mais dependente de Deus.
“A origem do mal é um mistério. O mal não veio de Deus, e ao mesmo tempo não está excluído do seu conselho(...) Depois da questão da própria existência, a questão da origem do mal é o maior enigma da vida e a cruz mais pesada que o intelecto tem de carregar.” Bavinck

Madureira usa 3 preposições:
 1) Deus é todo poderoso;
2) Deus é todo bondoso;
3) O mal está presente no mundo.

Para alguns, estas preposições só podem ser verdadeiras se tomadas individualmente, em conjunto encaram-nas como uma contradição. Para Pannenberg, o criador é omnipotente, isto é, o Deus que tudo criou exerce poder sobre todas as coisas e o que faz é legítimo, porque lhe pertencem.
“O objetivo humilhada ressalta apenas a real condição da inteligência humana, e não a atitude de uma inteligência que se humilha. Não é a humilhação que torna a inteligência humilhada.  Não há como humilhar aquilo que já é, por natureza, humilhado. Ou seja, o homem está sob a condição da humilhação não porque se humilhe, mas simplesmente porque é homem (...) O acto de humilhação não é o que pode tornar os homens humilhados, mas, sim, o que pode torná-los servos, absolutamente obedientes a Deus.”
Por outro lado, Cristo se fez servo, decidindo não se servir da sua omnipotência.
Ou seja, a forma usual do homem lidar com o problema do mal é dizer que Deus não é omnipotente e bom. Madureira reconhece que podemos ficar chocados com Génesis 22,  com o pedido de Deus a Abraão, mas propõe que possamos ler o texto em conjunto com o resto das Escrituras (por exemplo, Génesis 22 + Levítico 18:21+ Deuteronómio 12:31+ Génesis 18:10-15+Génesis 21:2; 22:2).
“A obediência de Abraão é a atitude consciente de alguém que não separa a fé da obediência e que, sobretudo, demonstra confiança, tanto emocional como racional, na Palavra de Deus.”
Deste modo, há duas reacções quando um Cristão reconhece a bondade e omnipotência divinas de Deus mais as consequências da presença do mal no mundo, uma lógica e outra emocional. A lógica é a apologética, que tenta demonstrar como as 3 preposições não são contraditórias; a emocional é a teodiceia, que tenta justificar Deus diante da presença do mal no mundo. Para Madureira, nenhuma das respostas é suficiente para dar uma explicação; antes tenta resgatar o papel e poder da lamentação na vida cristã.
“por que não há mais espaço para a lamentação dos cristãos convictos em nossas liturgias? Por um motivo aparentemente óbvio: medo. A lamentação é atemorizante, causa pavor. Ela destabiliza nossos pressupostos teológicos, nos humilha, nos constrange, afinal nos obriga a dizer o que realmente estamos sentindo e pensando (...) a lamentação é a exposição das vísceras que inutilmente tentamos esconder(...) lamentação é coisa de crente e não de incrédulo, é coisa de gente pecadora, mas também humana, demasiado humana” (Salmo 22; Marcos 15:34)
No dizer de Paul Ricoeur, a lamentação é uma oração de confiança em Deus, no entanto, uma confiança que é abalada e depois recuperada. Deus dá-nos, então, a lamentação não só para encontrarmos a esperança, mas também para nos livrar da incredulidade e do cinismo.

No quarto capítulo, a revelação divina é apresentada como  dando a explicação antropológica adequada à realidade do homem insuficiente.
 “A maravilhosa benção que a revelação divina reserva para aqueles que a conhecem é a grande descoberta de que o Deus das Escrituras revela ao homem não somente o verdadeiro Deus, mas também o verdadeiro homem.”
1      Ninguém pode conhecer-se de modo adequado sem o conhecimento adequado de Deus; ninguém pode conhecer verdadeiramente Deus e ser, ao mesmo tempo, ignorante acerca de si mesmo. Como diz Calvino, no já citado início das Institutas, o conhecimento de Deus abre-nos o entendimento para o nosso auto-conhecimento. O homem só se conhece verdadeiramente depois de conhecer verdadeiramente Deus!
Madureira vai descrever o homem como alma (como um ser faminto por Deus, a fome de Deus é a essência da natureza humana), como tendo um coração (centro da existência humana,o centro do autoengano), como sendo um ser de carne (sinónimo de fraqueza, existencial, mas também moral), de espírito (um ser vivente, dependente de Deus para viver, do Seu Espírito) e que deve ser orientado pelo texto bíblico.

No último capítulo, Madureira volta à questão e importância das cosmovisões, acusando os teólogos de deserção. Acusa-os de traição quando o seu pensamento é controlado por outra coisa que não o criador; se fui criado para servir a Deus, quem é, na realidade, o senhor da minha mente?
Para o autor, o teólogo deve buscar o conhecimento de Deus nos termos que Deus propõe e de acordo com a maneira como ele torna esse conhecimento possível. O teólogo corre o risco de estar cativo de uma cosmovisão não cristã. É o temor a Deus que pode levar o teólogo a ser fiel à Palavra. – Prov. 9:10, o processo de ouvir e aprender a história da salvação opera uma mudança de cosmovisão.
Assim sendo, o teólogo precisa de uma cosmovisão cristã, sendo que uma cosmovisão não é uma mera construção intelectual, antes um compromisso do coração (devoção da mente + devoção das paixões).A cosmovisão é, então, as lentes pelas quais vemos o mundo, sendo que não tem de ser consistente do ponto de vista lógico, pode assentar-se em pressupostos falsos. Responde a 4 perguntas: o que sou; onde estou; o que está errado e qual é a solução? A cosmovisão envolve os nossos sentimentos, entendimento e vontade. Para Madureira, as cosmovisões maioritárias exercem ocupação em 3 esferas – jurídica, educacional e mediática.


Logo, a batalha das cosmovisões é uma batalha pela mente das pessoas.
“A secularização é o resultado da traição dualista da cosmovisao. Em outras palavras, se, de um lado, os cristãos, traçaram uma linha para dividir o mundo em 2, do outro, os secularistas assumiram essa linha e fizeram dela uma espécie de motivo para justificar a irrelevância da cosmovisão cristã para a sociedade como um todo.”
“A teologia não é uma ciência fundamentada na subjetividade de um “sentimento religioso profundo”, mas na capacidade racional que temos de apreender objetivamente a revelação de Deus.”
“Não é uma Palavra que deve se acomodar à mente do teólogo, mas é a mente do teólogo que se deve dilatar para receber a Palavra.”

O fim da Palavra não é o conhecimento bíblico e a perícia teológica, antes estas duas coisas são o meio ordenado para um fim – uma vida radicalmente transformada.