segunda-feira, 22 de outubro de 2018

A um membro de igreja que lhe disse que o seu pastor morreria das muitas pregações que fazia, Spurgeon respondeu: "O que mata bons ministros é pregar a congregações sonolentas."

Now, my brethren, one sign of a true revival, and indeed an essential part of it is the increased activity of God’s labourers. Why, time was when our ministers, thought that preaching twice on Sunday was the hardest work to which a man could be exposed. Poor souls, they could not think of preaching on a week-day, or if there was once a lecture, they had bronchitis, were obliged to go to Jerusalem and lay by, for they would soon be dead if they were to work too hard. I never believed in the hard work of preaching yet. We find ourselves able to preach ten or twelve times a week, and find that we are the stronger for it,—that in fact, it is the healthiest and most blessed exercise in the world. But the cry used to be, that our ministers were hardly done by, they were to be pampered and laid by, done up in velvet, and only to be brought out to do a little work occasionally, and then to be pitied when that work was done. I do not hear anything of that talk now-a-days. I meet with my brethren in the ministry who are able to preach day after day, day after day, and are not half so fatigued as the were; and I saw a brother minister this week who has been having meetings in his church every day, and the people have been so earnest that they will keep him ver often from six o’clock in the evening to two in the morning. “Oh!” said one of the members, “our minister will kill himself.” “Not he,” said I, “that is the kind of work that will kill no man. It is preaching to a sleepy congregation that kills good ministers, but not preaching to earnest people.” So when I saw him, his eyes were sparkling, and I said to him, “Brother, you do not look like a man who is being killed,” “Killed, my brother,” said he, “why I am living twice as much as I did before; I was never so happy, never so hearty, never so well.” Said he, “I sometimes lack my rest, and want my sleep, when my people keep me up so late, but it will never hurt me; indeed,” he said, “I should like to die of such a disease as that—the disease of being so greatly blessed.” There was a specimen before me of the ploughman who overtook the reaper,—of one who sowed seed, who was treading on the heels of the men who were gathering in the vintage. And the like activity we have lived to see in the Church of Christ. Did you ever know so much doing in the Christian world before? There are grey-headed men around me who have known the Church of Christ sixty years, and I think they can bear me witness that they never knew such life, such vigour and activity, as there is at present. Everybody seems to have a mission, and everybody is doing it. There may be a great many sluggards, but they do not come across my path now. I used to e always kicking at them, and always being kicked for doing so. But now there is nothing to kick at—every one is at work—Church of England, Independents, Methodists, and Baptists—there is not a single squadron that is behindhand; they have all their guns ready, and are standing, shoulder to shoulder, ready to make a tremendous charge against the common enemy. This leads me to hope, since I see the activity of God’s ploughmen and vine dressers, that there is a great revival coming,—that God will bless us, and that right early.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

A noite desce rapidamente. Os últimos raios de sol já não aqueciam, alumiavam timidamente o território invadido rapidamente pela penumbra. No quintal ainda nenhuma luz eléctrica, ao fundo via-se a raia, espanhola e alentejana, os pássaros cantavam alto em busca de refúgio em algumas azinheiras e oliveiras. O frio levou-o a entrar em casa, aquecida pela lareira, que servia não só para os aquecer, mas também para cozinhar um cozido de grão em panelas de barro.
A avó, viúva e só, quase todo o ano, dividia-se em tarefas caseiras, a mãe ajudava-a. Batem à porta, um tio de noventa anos entra com ar jovial e aquentado pelos copos de vinho tinto. Tem uma simpatia especial por este Tio, Domingos de seu nome, vê-o descer a rua, mora no monte ao lado da vacaria, vem direito que nem um fuso, gosta de vê-lo subir a rua, encostado ao muro para que o álcool o não derrube. Uma vida estranha esta, passada entre a casa, em que nunca entrou, e a taberna, onde há uns chocolates espanhóis.
Durante a tarde viu um pardal não se desviar a tempo de uma carrinha de caixa aberta, apanhou-o já morto e deu-o ao pai, “sem flobber, uh?”. Viu o ritual do pai, a que está habituado, depenar o bicho, cortar-lhe a cabeça, abri-lo ao meio. Juntou o pardal a outros pássaros que foi apanhando com a pressão de ar, uma tarde destas serão o petisco, fritos em alho e azeite.
Falam do acontecido com o pássaro, o tio olha-o sério e diz-lhe se foi a primeira vez que viu tal coisa, “um pássaro atropelado”. Ri-se nervosamente, diz que sim.
-Não é o mesmo, sabes, mas o meu bisavô dizia que quando um pássaro bate contra uma janela e morre, há alguém que morre.
Os adultos olham para ele, que sorri nervosamente.
-Ti Domingos, porquê? Há tanta gente a morrer e não vejo assim tantos pássaros a bater contra as janelas.
-Estas são mortes especiais, encomendadas.
Continua a história com um gesto, despeja o copo de vinho tinto, olhando-o nos olhos e terminando a despejar umas gotas de vinho em cima do pão.
Acordou com o carpir de algumas vizinhas, o Ti Domingos morreu durante a noite. Aquela conversa estranha fica-lhe na memória e liga-a à morte do tio. Um pardal a fazer de Valquíria, levando a alma do tio para outro lugar, no Alentejo não se deve chamar Valhalla.
Lembrou-se desta história hoje, entrou-lhe um pardal em casa, pela janela aberta. Assustado, tentou voltar à liberdade, matando-se contra as janelas. Já não pensava no Ti Domingos há mais de trinta anos.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Pregação do casamento do Isma e Inês - 14/05/2016

Efésios: 5:18-33
Deixem-me começar com uma teoria sobre a percepção do casamento, via cultura popular, nomeadamente, através da televisão, cinema e livros. A cultura popular tem uma visão cínica do casamento.
Os livros, as séries de tv e os filmes abordam os relacionamentos amorosos, o namoro e relacionamentos extra-conjugais com todas as ganas; mas o casamento fica fora da excitação.
Roemos as unhas até ao sabugo para saber se (ou quando) as personagens principais vão ficar juntas, mas raramente o casamento tem o mesmo tempo de antena, interesse ou excitação do que um namoro ou um caso extra-conjugal.
O Clark Kent já não está casado com a Lois Lane.
O Peter Parker já não está casado com a Mary Jane.
O fox Mulder já não está casado com a Danna Scully.
E por aí além…
É difícil escrever sobre casamento, porque o casamento é chato ou então um meio para fins pouco ortodoxos. Há algum casamento recomendável em Game of Thrones?
Ao absorvermos a cultura à nossa volta, absorvemos a visão do casamento veiculada por ela.

Olhemos para o texto lido, Efésios 5:18-33, para vermos a visão cristã acerca do casamento.
  1. 18 – “Enchei-vos do Espírito.”
  2. 21 – “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.”
Quando o Antigo Testamento fala de temor ao Senhor, está a dizer-nos que esse temor altera a minha relação com Deus. Temer, neste sentido, é ser tomado de espanto diante da grandeza e do amor de Deus. O temor de Deus “liberta-nos” para o serviço, mas Paulo vai palicar o temor a Deus e o serviço mútuo ao casamento!
Neste contexto, são duas expressões que querem dizer o mesmo, o que está cheio do Espírito Santo teme a Deus. São duas expressões que tiram o foco dos meus esforços para o colocar na acção de Deus na minha vida. (I Jo. 4:19)
É possível ser descrente e ser casado, mas não é possível divorciar a fé do casamento, aliás a fé enriquece, aprofunda o casamento!
Se o casamento é serviço, então é mais acção do que sentimentos!
Neste dia de alegria, felicidade, comida e bebida deixem-me dizer “O casamento não é fácil, concordam comigo?”
Conheço casamentos que duraram a lua de mel, há alguns que nem à lua de mel chegaram! A ideia é “ se estás mal, muda-te!”
Inês, Ismael, o casamento é sobre mudanças e o vosso vai assistir a muitas mudanças.
A visão protestante sempre viu o casamento como uma lugar para formar carácter na união de um homem e de uma mulher.
A interpretação clássica protestante acerca do casamento é a de que é um dom de Deus para a Humanidade. Tem o objectivo de povoar a terra, tem um objectivo de desenvolvimento social (um “local” onde educar crianças em harmonia e amor), é uma escola de aprendizagem, serve para controlar paixões, para negar desejos, para servir um ao outro e a outros.
No século XVIII, com o Iluminismo, a visão cultural do casamento muda porque a visão do homem muda, ao abandonar Deus o homem torna-se livre para fazer o que quer, como bem lhe apetecer, usualmente em função dos seus gostos, prazeres e vontade.
Assim temos duas visões do casamento:
  • Uma instituição que visa o bem comum (nós)
  • Uma visão que visa a satisfação do indivíduo (Eu)
Vocês são dois indivíduos, se ignorarem o nós, se cada um quiser satisfazer o seu ego vai haver problemas!
O Isma e a Inês reconhecem que são pecadores. Essa é a base de um casamento cristão. 2 pessoas imperfeitas, pecadoras que se unem para criar um espaço de consolo, amor e estabilidade debaixo da misericórdia de Deus! Quando nos casamos há mudanças e não há modo de antecipar todas essas mudanças.
Paulo refere-se ao casamento como uma mistério (v.32), porque Paulo está a dizer que só compreendemos totalmente o casamento, só cumpriremos bem o nosso papel no casamento, quando virmos o casamento como uma imagem do relacionamento entre Cristo e a Igreja. Um dos propósitos de Deus para o casamento é retratar a relação entre Cristo e o Seu povo resimido.
Cristo não se aproveitou da sua igualdade com o Pai (Fil. 2), mas tomou a forma de servo, morreu, mas Deus o ressucitou dos mortos.
O casamento só funciona quando se aproxima do modelo de amor abnegado de Deus em Cristo. Quando Deus inventou o casamento já pensava na obra redentora de Cristo!
Somos mais pecadores e imperfeitos do que imaginamos, mas também somos mais amados e aceites em Jesus do que possamos almejar.
O amor salvador de Jesus é caracterizado  por esta verdade radical – somos pecadores; mas também por esta outra, se Jesus é teu salvador, ele tem um compromisso radical e incondicional contigo.
“O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo dos riscos e perturbações do amor é o inferno.” C.S. Lewis
Isma e Inês, vão existir perturbações no vosso casamento:
  • Confessem os vossos pecados uns aos outros e a Deus;
  • Dependam de Deus.
v.21 – “sujeitem-se uns aos outros no temor de Cristo”
De que forma?
  1. 22 – “Mulheres sejam submissas” (submissão)
  2. 25 – “Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela.” (Amor Sacrificial)
A submissão faz-nos coceira aos nossos ouvidos ocidentais. O argumento é aprender a servir uns aos outros no poder do Espírito Santo. Paulo está a escrever a uma igreja, a dizer-lhe para ser cheia do Espírito Santo e depois aplica este argumento ao casamento. Paulo tem uma visão espiritual do casamento, se não estivermos cheios do Espírito Santo não serviremos bem o noso conjuge. Como é que sabemos que tememos a Cristo e estamos cheios do Espírito Santo? Mulher casada, se és submissão ao teu esposo. Homem casado, se a amas com amor sacrificial.
Paulo está a desafiar os conjuges a viver um para o outro e não para si mesmos! A fazê-lo no temor de Cristo. (Fil. 2:3)
Paulo coloca o conjuge num duplo papel: conjuge e irmão em Cristo.
O princípio bíblico, atestado por Paulo, no casamento é o da liderança/autoridade masculina, mas ao trazer esta noção de serviço e ao estabelecer que a mulher é uma irmã em Cristo, a ideia de autoridade é alterada. Não é uma autoridade fascista, cega. Para ser sincero, o Isma ficou com a fava – amor sacrificial, em último caso é chamado a dar a sua vida pela Inês!
I Cor. 13:4-5
O serviço sacrificial redunda em felicidade, esta é uma ideia estranha, para nós, veiculada pela Bíblia!
Quando procuramos servir o outro dentro do casamento em vez de procurar a minha própria alegria, vou encontrar a minha felicidade!!!
O casamento é uma aliança diante de Deus e com Deus. É um voto vertical, com Deus; e um voto horizontal, um com o outro.
A aliança é a combinação entre lei e amor. Tim Keller diz que o amor precisa de uma estrutura de obrigação e compromisso. O namoro é uma relação de consumo, há necessidade de promoção, temos a Inês em photoshop, o Isma em photoshop.
Muitos casamentos terminam porque não percebem que o casamento nos obriga a despir, não só fisicamente, mas também psicologicamente. Temos de ser nós mesmos, com as nossas falhas e pecados 24h, perante o outro. Vocês vão estar diante um do outro sem photoshop!
Os votos de casamento não são presentes, mas votos de amor futuro, a promessa que fazem hoje é um meio para a liberdade e felicidade. A estrição de liberdade no presente é para estarem ao lado de pessoas de confiam em vós. Escondemos o nosso pior dos outros, o casamento é o local para nos desvelarmos ao outro. Se o outro não me conhecer realmente, ele nunca me poderá amar verdadeiramente. Muitas das vezes, a noção de paixão que sentimos é uma erupção de gratificação do ego, mas não ainda a satisfação profunda de ser conhecido e amado.
Daqui a uns anos, quando a Inês conhecer o pior do Ismael, os seus pontos fracos e falhas, os seus pecados e ainda assim se comprometer com ele, isso será uma experiência mais completa e suprema. E vice-versa.
Com o tempo, vão descobrir realmente como é o outro e amá-lo por ele ser quem é, não só pelo prazer publicitário e do ego que proporciona.
Isma, atenta nestes dois versículos:
  1. 25 – “Amai vossa mulher”
v.28 – “devem amar a vossa esposa”
Estes dois versos explicitam uma obrigação, porque há alturas em que não vais sentir grande amor pela Inês, dias em que te vais esquecer do dia de hoje e dos votos de casamento.
Os sentimentos mudam de intensidade, se seguirmos a nossa cultura o normal é o fim do casamento, o abandono!
Age, ama, haverá alturas em que não te sentirás particularmente carinhoso, queres ir jogar à bola ou ver bola, não vais querer ajudar na lida da casa, falar com a Inês ou perdoar a Inês. A prática do amor fará com que os sentimentos se tornem mais constantes.
Terminando, qual é a missão última do casamento?
Se são irmãos em Cristo, ajudar mutuamente a alcançar a identidade gloriosa da nova criação.
O casamento deve ser um processo de refinamento espiritual mútuo. O casamento não é o culminar da procura pela pessoa ideal, é um processo de santificação a dois. Se o conjuge for somente o parceiro sexual ou financeiro, facilmentre descobriremos que precisamos de actividade fora do casamento para nos sentirmos satisfeitos. Se o conjuge for o nosso melhor amigo, o casamento será o relacionamento mais importante da vossa vida.
Muitos casamento entre cristãos começam com a ideia de jornada em direcção de Deus como algo acessório. A fé é encarada somente como factor de compatibilidade.
Há uma cena da cultura popular, acerca do casamento, que me toca especialmente, é no filme Duelo Imortal (Highlander). Nesse filme, um imortal casa com uma escocesa mortal.
O plano é nas terras altas escocesas onde vivem e constroem a sua casa. Vemos o dia a dia feliz deles. As estações do ano passam, e o que transparece é a felicidade do casal.
Vamos Connor a afastar-se de cavalo, e mais tarde a voltar e chamar por ela…ela responde, e vem do vale, lentamente, Connor continua com o mesmo ar de trintão saudável, ela é uma anciã fraquinha.
No seu leito de morte, ela, velhinha e fraca, ele a vender saúde como nunca, ela pergunta-lhe:
– Por que é que ficaste?
– Porque te amo como desde o dia em que te conheci.
– Não quero morrer. Quero ficar contigo para sempre.
– Também quero isso.
Eles não ficaram juntos para sempre, ela morre e o filme continua. Mas o casamento serve para se ajudarem mutuamente a conhecerem-se melhor, a amar um ao outro, mas também a amar e servir Deus, a serem seus imitadores a caminho da Jerusalém Espiritual. (Cant. 8:6-7)