segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Coisas que tenho feito/aprendido com o caso dos elevadores

- falei mais com os meus vizinhos durante estas duas semanas do que nos últimos anos;
- tenho tido oportunidade de, brevemente, falar daquilo em que acredito;
- o Trono da Graça está ocupado, há coisas que eu não posso fazer, como dizia um amigo, não te gastes com o que Deus não te chama a fazer, ou seja, não te desgastes com a mania de que és Deus. Deus é soberano, eu não.
- quão produto inacabado ainda sou, esta situação tem-me mostrado quanto em algumas áreas a minha fé e confiança ainda não é o que eu desejaria que fosse. Se depender da minha força e vontade não é grande fé, certo?
- a ansiedade corrói as estacas da confiança, consciente ou inconscientemente. Uma dos meus versos preferidos ajuda a manter a calma, A cada dia o seu mal. A ansiedade tende a integrar todas as possibilidades e semanas de um calendário num momento interminável vivido ao longo de dias...
- a minha mente tende a elencar planos, hipóteses, realidades paralelas, planos de vingança ou situações em que um dos actores poderia ter agido de forma diferente. Esta vida mental tende a ter um papel real no meu dia a dia, mas falso na resolução de problemas e na dependência divina.

Deus me ajude, em nome de Cristo e pelo Seu Espírito.

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Elevadores, ansiedade e oração

A semana passada cheguei a casa para me deparar com uma carta da empresa de elevadores, enviada a todos os condóminos, com uma dívida alta, a ameaça de um processo e o desligamento dos elevadores.
Já tinha a percepção de quão fraca é a empresa de administração, mas esta foi a gota final. Passei o sábado ansioso, contra vontade. Um bom protestante tem na confiança em Deus um dos seus garantes, mas a mente e a tensão teimaram em estar activos. 
No domingo, transmiti a alguns irmãos o assunto e pedi que orassem por isso, a ansiedade ficou em segundo, ou terceiro, plano. 
Na segunda-feira, fui à administração, a pessoa que estava ao balcão recusou-se a responder às minhas questões, telefonei para a administradora, a chamada foi recusada algumas vezes, enviei mensagem, sem resposta. Fui aos julgados de paz, informei-me sobre algumas coisas que poderia fazer e marquei uma reunião informal com os condóminos para o dia seguinte. 
Com alguma surpresa minha, cerca de metade do prédio esteve presente, avançámos numa série de propostas e dividimos tarefas por algumas pessoas. Ontem, dirigi-me à empresa de elevadores e apresentei o caso, tendo sido muito bem recebido, compreendido e saí animado com a conversa e promessas recebidas.

O foco do texto não é isto que acabei de escrever, este preâmbulo todo pretende apresentar somente o contexto.
Tendo a ser ansioso por natureza, mas nos últimos anos tenho conseguido confiar e depender mais na soberania, sabedoria e graça divinas. Passámos enquanto família por períodos mais complicados financeiramente falando, mas não só, e aprendemos a confiar, nunca nos faltou o pão nosso de cada dia, nem o que vestir, isto tem-me ajudado a valorizar o dinheiro de uma outra forma.

Sistematicamente, a noção de que Deus cuida de nós (se cuida dos pardais, se veste os lírios do campo...) está cristalizada, li diversas passagens ao longo desta semana, algumas conscientemente, outras vieram à nossa presença sem estarmos à espera, mas todas motivaram-nos para confiar em Deus.  (Lucas 17: 5,6; Lucas 22: 24-27; Lucas 18:1-8; Tiago 1:2-8, Salmos 59, 61) Como é que eu vivo aquilo em que acredito quando a mente e o coração tendem a não repousar nas promessas?! Tive de lutar contra o meu eu diversas vezes, pregando a palavra a mim mesmo.

Houve duas lições que me marcaram esta semana:
1) lembra-te de que as provações devem produzir perseverança e fé! O foco ao passar por dificuldades deve estar no alto e não no meu umbigo. Confiar, depender, orar, esperar em Deus, uma das conclusões que partilhávamos no culto familiar era de que o zelo e foco da oração e da esperança devem ter a mesma força em tempos de tribulação e em tempos de bonança, i.e., confiei de forma prática e constante esta semana, o desejo é que isso continue quando aparentemente não tiver problema algum. Quantas vezes me esqueço de viver Coram Deo.
Por outro lado, recordar perante os problemas e ansiedade presentes o cuidado passado de Deus para comigo. Faz sentido ser animado por Deus à 3ª Feira e desesperar à 4ª Feira? Se Deus demonstra que está a agir, confia...espera Nele.

2) apesar de confiar na oração, por vezes esta é pouco mais do que um ritual místico, a que dando importância a retiro pelo forma como o faço. Explico, confio no Deus a que oro, mas por vezes a oração é mais uma forma de cumprir essa fé do que de viver essa fé. Tendo a ter cuidado com a forma como oro, o ónus está em Deus e não em mim, e isso por vezes retira-me a fé de que Jesus tanto fala, (Buscai e achareis, batei e abrir-se-vos-á; se tivessem fé ordenariam a esta amoreira que se plantasse no mar e ela iria!). Esta semana orámos com fé, pedimos por coisas específicas, conscientes de que a Sua vontade é soberana e que Dele dependemos. Os Salmos que temos lido em família indicam-nos que as provações e problemas são uma realidade comum, mas que temos liberdade para pedir por livramento e acção de Deus por nós.
Por outro lado, é bom saber que somos um corpo, é bom saber que há pessoas que oram por nós e se vão mantendo em contacto connosco, ferro que afia o ferro, gente que carrega os fardos dos outros, esta semana sustentei e fui sustentado em oração, e isso ajuda-me a dobrar os joelhos e o pescoço!

Enfim, o assunto ainda não está resolvido, mas Deus já me transformou o entendimento. 
Soli Deo Gloria
















terça-feira, 5 de novembro de 2019


Os Respigadores e a respigadora, Agnès Varda (2000)
Gosto dos documentários de Varda, são sempre idiossincráticos, versam sobre o tema mas não se prendem a este, se Varda encontrar algo que valha a pena pensar ou filmar fá-lo sem constrangimentos e o final deste filme é disso exemplo, quando filma as aulas gratuitas de alfabetização de um homem que encontrou na rua a procurar e comer os restos deixados após o mercado.
O filme baseia-se no acto de respigagem, acto referido e permitido no código penal e em éditos do século XVI, como bom protestante relembro-me da lei mosaica que também o previa e da história de Rute e Noemi.
Agnès filma os respigadores sobreviventes à entrada do século XXI, no campo poucos são os que ainda persistem, seja por ignorância da lei, seja por proibição dos donos das explorações.
Da apanha da batata, às vindimas, às diversas frutas, passando pela produção de ostras, a câmara de Varda filma as dificuldades daqueles que seriam beneficiados pelo acto da respigagem, respigando também ela coisas nesse processo, imagens, conversas, experiências, duas cadeiras e um relógio sem ponteiros.
A incongruência de se preferir estragar o desperdício (as batatas ou uvas não aproveitadas estão na ordem das toneladas, seja por se obedecer a uma quantidade específica para se fazer parte de uma região demarcada, como no caso do vinho da Borgonha, seja pelo tamanho e aspecto específico para vender em supermercados, que faz com que muitos produtos agrícolas sejam deixados por apanhar ou deitados fora) a matar a fome a quem os podia apanhar é clara.

Agnès dá o ponto e o contraponto, da conversa com os "vagabundos", como lhes chamam os ciganos que moram perto deles, passa para o chef Michelin mais novo em França na altura, de uma cultura de sobrevivência à custa dos restos para restaurante com o menu de degustação a 600 euros, onde o chef também faz a respigagem de produtos para a cozinha. Ambas são experiências de respigagem, ainda que diametralmente opostas na necessidade de quem a pratica.
Mas os documentários de Varda não são somente descritivos, são inquisidores, mente inquieta, a realizadora indaga, persegue, visita, procura compreender, talvez por isso não seja de estranhar que ela pegue na contradição de no campo já não existirem respigadores mas estes abundarem nas grandes cidades, dobrando-se e apanhando comida dos caixotes ou das ruas para sobreviver.
E enquanto o faz, Varda não deixa de se admirar com as pequenas e belas coisas, seja com as batatas em forma de coração que leva para casa e filma, seja para filmar os sinais de velhice e antecipar a morte, a morte que continua a esperar em Olhares Lugares de 2018 com JR, de resto há praias, como nos restantes documentários que vi, e há a câmara a filmar, Varda aproveita os bons e maus planos e brinca com isso.
Há no entanto uma diferença estética este filme para Olhares Lugares e As Praias de Agnès, neste não há uma preocupação estética tão grande com planos, talvez pelo uso maior da handy camera, pelo aspecto "artesanal" das imagens obtidas por esta. Neste sentido, é um filme inferior aos dois documentários referidos acima.
7/10







Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda (2018)
O filme apresenta-nos uma família sui generis, uma avó, um casal, uma rapariga e um rapaz que vivem em condições deploráveis. Apesar de irem trabalhando, os rendimentos pouco mais dão do que para sobreviver, pelo que vão vivendo de uma série de pequenos roubos e estratagemas. Quando o pai e o filho encontram uma menina, vítima de maus tratos e subnutrição, toda a família a adopta, mostrando toda a sua humanidade e empatia no decorrer dessa acção.
O filme dura duas horas e quarenta minutos, o dia a dia da família é escalpelizado, percebemos a humanidade dos seus intervenientes, as ligações que existem e se vão fortalecendo entre eles.
As dificuldades do Japão moderno são descritas, a inconstância profissional, a ausência de segurança profissional, a indústria do sexo como escape profissional e como retrato das dificuldades de relacionamento ou como paradigma de novos relacionamentos, os chat-rooms sexuais, por exemplo, da dificuldade em viver com poucos recursos, mas o filme também consegue ser luminoso, com as pequenas conquistas vividas em família, da casa como castelo mesmo quandose vive numa "barraca", do amor, da abnegação, do sacrifício.
Uma cena belíssima, o rapaz ensina a rapariga "adoptada" a roubar, o dono do estabelecimento deixa-os levar a cabo o roubo, chama-os, dá-lhes dois gelados e diz ao miúdo para não a ensinar a roubar, perante o ar atónito deste.

O filme parece ser uma comédia de certos costumes, uma imagem delicodoce de uma comunidade nas frestas da sociedade, e é, mas termina de uma forma que passa a ser bem mais do que isso, uma crítica à sociedade contemporânea japonesa, e um hino à família ou ao espírito familiar.
8/10



segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Credo dos Apóstolos

Semana 2
Romanos 10:9-10
Creio, confissão – confio, tenho confiança, acredito
Jaroslav Pelikan “ O que a igreja de Jesus Cristo acredita, ensina e confessa com base na Palavra de Deus: essa é a doutrina cristã.”
Não há Igreja Cristã que não confesse doutrinas cristãs. O credo é a apresentação do ensino bíblico, ortodoxo e consensual, apesar de não se referir directamente às escrituras, o credo tem nestas a sua origem e linguagem.
“O credo só tem razão de ser a partir da crença de que o Espírito Santo soprou as palavras que formam a Sagrada Escritura.” (Ferreira, Franklin, p. 25)
O credo não deve ser encarado como algo mecânico, mas como exigindo confiança em Deus. Ou seja, não acreditamos por ou se recitarmos o credo, mas podemos recitar o texto se acreditarmos, é uma prova da confiança pessoal em Deus.
“Quando eu digo “Creio em Deus”, a ideia que o credo ensina é mais do que a mera adesão intelectual aos seus enunciados. O que este símbolo exige e requer, como eco do texto bíblico, é que nós confiemos, que nós obedeçamos e sejamos comprometidos com os enunciados daquele documento.” (Ferreira, Franklin, p. 36)
Algumas notas de Karl Barth quanto ao “Creio”:
- Acto de reconhecimento da realidade de Deus no seu relacionamento com o homem;
- Acto de confissão – o sujeito é a igreja ou pertence a esta, enquanto membro dela.
- A confissão é sempre a tentativa de proteger a verdade divina do erro humano; no credo, a Igreja curva-se perante Deus e expressa a sua fé como acha que as Sagradas Escrituras a descrevem.
- A fé como uma forma de mostrar compromisso com o trabalho missionário, a confissão como um acto de convocar outros à fé, um testemunho daquilo em que se crê.

A confissão é então um acto de fé público e comunitário, há uma resposta pessoal, num acto comunitário.

Sendo o credo um texto Trinitário, e não aparecendo o termo Trindade na Bíblia, é importante lermos textos que mostram as diferentes pessoas da Trindade.
Textos/ confissões de fé centradas na pessoa de Jesus Cristo: Actos 8:37; Romanos 8:34; II Timóteo 2:8; I Pedro 3:18-22; I João 4:2, 15; Filipenses 2:5-11; I Timóteo 3:16; I Coríntios 15: 3-4
Confissões centradas no Pai e no Filho: I Coríntios 8:6; Gálatas 1:1-5; I Timóteo 2:5-6; 6:13-16; II Timóteo 4:1
Confissões Trinitárias: Mateus 28:19; Romanos 1:1-4; II Coríntios 1:21-22; 13:13; I Pedro 1:2; Judas 20,21

Credo dos Apóstolos

Vou ao longo dos próximos 3 meses dar uma EBD sobre o Credo dos Apóstolos, para tal vou usar os livros do Pastor Franklin Ferreira, de Karl Barth sobre o mesmo, bem como o livro de Kevin deYoung sobre o Catecismo de Heidelberg, nos capítulos referentes ao Credo, bem como outros materiais.

Semana 1

Qual é a nossa experiência com o Credo, quais os nossos preconceitos (ideias pré-concebidas) acerca do Credo? Qual o nosso “relacionamento” com credos, confissões, catecismos?
Em que é que eu acredito? Se me perguntarem um resumo da minha fé, qual é a minha resposta?

O Credo é um resumo da fé pregada pelos apóstolos.  Nasce provavelmente a meio do segundo século e nasce da necessidade de instruir catecúmenos e como forma de preparação para o baptismo. Por um lado estabelece os artigos fundamentais da fé cristã, por outro é uma forma de lutar contra heresias.
Exemplo de alguns textos confessionais/ Credo= creio
Deuteronómio 6:4 (Shemá); João 1:49; Mateus 16:16; João 20:28; I Cor. 15:3-4; Efésios 4:4-6; I Timóteo 3:16 – exemplos de confissões de fé
 Incluo duas versões do credo, pela razão de usarem palavras diferentes, ainda que o conteúdo seja o mesmo, as implicações teológicas poderão ser diferentes.
I
Creio em Deus Pai, Todo-Poderoso,
Criador dos céus e da terra;
E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor,
Que foi concebido por obra do Espírito Santo,
Nasceu da Virgem Maria,
Padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos,
foi crucificado, morto e sepultado,
desceu à mansão dos mortos,

ressuscitou ao terceiro dia,
subiu ao Céu
e está assentado à destra de Deus Pai Todo-Poderoso,
De onde há de vir para julgar os vivos e os mortos;
Creio no Espírito Santo,
Na santa Igreja Católica,
Na Comunhão dos Santos,
Na remissão dos pecados,
Na ressurreição da carne
E na vida eterna.
Amém
II
Creio em Deus, Pai Todo Poderoso, criador dos céus e da terra. E em Jesus Cristo, seu único Filho, nosso Senhor, o qual foi concebido por obra do Espírito Santo. Nasceu da virgem Maria, padeceu sob o poder de Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado; desceu ao Hades; ressuscitou ao terceiro dia; subiu ao céu, e está sentado à mão direita de Deus Pai Todo Poderoso, donde há de vir para julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo; na santa igreja católica; na comunhão dos santos; na remissão dos pecados; na ressurreição do corpo; e na vida eterna. Amém

Desafio/TPC: conseguimos encontrar textos para cada verdade teológica assumida pelo credo? O Credo vai buscar a sua linguagem à Bíblia, não se vê como algo ao lado da Bíblia, mas como um texto que nasce desta, um resumo de algumas das suas verdades. Conhecemos ou vêm-nos à cabeça textos que apoiem as verdades enunciadas pelo Credo?

sábado, 21 de setembro de 2019

Unbelievable


A Netflix anda a surpreender-me pela negativa no que à oferta de séries de qualidade diz respeito, tenho visto alguma junk tv, Os assassinos Wu é disso um bom exemplo, uma série de 10 episódios que se limita a dar boa e contemporânea pancadaria, mas séries que se distingam pela qualidade da escrita, interpretações e produção têm escasseado(também pode ser o meu mau génio a falar). Por isso, estava indeciso, o que é que vou ver? Dediquei-me ao passatempo usual de ver um bocado disto, um bocado daquilo até o torpor, o tédio ou o mau gosto me vencerem por completo. Desta vez, à segunda tentativa fiquei agarrado ao ecrã e a esposa, que estava ao computador, foi-se voltando para o ecrã até que, vencida, se sentou ao meu lado. 

Os crimes sexuais, nomeadamente a violação, não estão ausentes do cinema ou da televisão, assim de repente lembro-me de um filme com Jodie Foster, Os acusados, e alguns episódios de Lei e Ordem, e seus sucedâneos, isto para  não nomear Irréversible, mas somos capazes de voltar a este.

Unbelievable conta, em oito episódios, a história da violação Marie Adler (Kaitlyn Dever), em Washington, que será acusada de falso testemunho, e da investigação das Detectives Grace Rasmussen (Toni Collette) e Karen Duvall (Merritt Wever) sobre casos de violação no Colorado.



Unbelievable é objectiva o suficiente para nos incomodar, sem nos dar o acto em si como Irréversible; em vez de nos apresentar o acto como algo abjecto e visível, apresenta-nos o acto e os efeitos deste na vida das suas vítimas, especificamente na vida de Marie Adler.
Adler é um caso específico, estando no sistema de adopção americano é apresentada como uma jovem com um passado problemático, passado que em nada a ajudará, principalmente na percepção que os polícias, mas principalmente quem melhor a conhece, farão do seu relato. 
Esta luta entre confessar o acontecido e acreditar no que é dito, muitas das vezes por causa da resposta corporal, psicológica, emocional é brutalmente apresentada, como acreditar em alguém com um passado tão extenso e que já provou não ser confiável? Quando a própria "família" desconfia, o que podemos fazer senão desconfiar?
 O primeiro episódio apresenta-nos a via árdua de uma vítima de violação perante um corpo policial totalmente masculino, Marie terá de contar o que lhe aconteceu vez após vez, mostrando-nos o transtorno, a dor, a tentativa de se alhear do sofrimento presente impedida por mais um pedido de repetição do acontecido. Quando chegamos ao segundo episódio e vemos o mesmo acontecer, mas agora com uma mulher a dirigir o processo vemos uma maior humanidade e empatia num processo duro, longo e violento.
As duas detectives, opostas na maneira de ser e sentir, são-nos apresentadas separadamente, investigando crimes de violação que lentamente começam a convergir numa só investigação. 
A fé de Duvall e a incapacidade crescente de gerir o ritmo familiar, fugindo ao clichés habituais de problemas familiares e traição, encontram o negativo na crítica humanista de Rasmussen à existência de Deus num mundo de assassinos, violadores e crimes violentos. Se a série começa por ser sobre Adler, quando nos apresenta às detectives, traz também as experiências de muitas outras mulheres violadas, e a transformação do mundo familiar das detectives por conta desta investigação. 

A série irritou-me (positivamente) pela forma lenta como vai contando a história, a irritação nasce do sentimento de incapacidade que o espectador sente perante o que se vai desenrolando e também pela forma lenta como as três, depois duas histórias se vão afastando e aproximando. A forma como a história é contada e filmada, sem chegar à obscenidade crua do acto de Irreversible, mas mostrando o suficiente para incomodar o espectador, deixa-nos perceber o interior (tumultuoso, no caso de Adler) das personagens, muitas das vezes somente através de um grande plano, de uma expressão, do vazio do olhar, do tremer da mãos, de um karaoke no carro!

Enfim, um exemplo maior de um excelente casting, as três protagonistas são excelentes, de uma escrita cirúrgica e de uma óptima realização.
O que surpreende em Unbelievable é a capacidade de não ceder facilmente à fórmula "Hollywoodiana" de criar celeuma, de chocar gratuitamente, de ser unidimensional e facciosa. Não há tempo de antena e glorificação nem do crime, nem do criminoso; a série tenta documentar mais do que teatralizar no sentido de condicionar a nossa opinião acerca do sucedido.

A crítica velada à forma como construímos ideias e preconceitos, como julgamos com base em pressupostos é certeira, a maneira como reagimos às injustiças ou como reconhecemos os nossos erros culminam num final que sendo real e moralista, não se fecha ou redunda numa moralidade construída para convencer ou transformar o espectador. O espectador é transformado porque percebe que o final não é um artifício narrativo, mas uma realidade vivida.

Uma das grandes séries deste ano, e que ajuda a esquecer a má colheita dos últimos meses Netflexianos.









400 golpes

Fomos, no início do mês,a Setúbal, ao Fórum Municipal Luísa Todi, ver Os 400 Golpes de François Truffaut, primeira sessão da nova temporada da Master Class de Cinema de Lauro António, subordinada ao tema Filmes que Amo. Tendo trabalhado em Setúbal, na Ese, nos últimos anos, fico abismado com a ausência de publicidade a este evento (dura há cinco ou seis anos, as sessões são semanais!); descobri-o por acaso numa entrevista a Lauro António num dos podcasts que sigo. (Sempre às segundas-feiras, às 21h. 
Os 400 Golpes é a primeira longa metragem de François Truffaut, de 1959, uma das obras impulsionadoras da Nouvelle Vague francesa.
O filme conta as aventuras e desventuras de Antoine Doinel, um jovem de 12 anos, em casa, na escola e na rua. Antoine vive num apartamento minúsculo com os pais, descobre um caso extra-conjugal à mãe, sofre na escola com um dos professores, que não está para aturar a lassidão estudantil, e tenta a sua sorte nas ruas, o que o leva ao pequeno crime e, finalmente, à sua institucionalização.
O filme tem um tom cómico, decorrente das situações, mas não se fecha nele. A parentalidade falhada, mas também o falhanço da vida adulta, seja de pais e professores perante as crianças, seja perante os seus próprios sonhos, mas também dos casais entre si, é uma das temáticas proeminentes. Pais que não têm tempo, e amor, para os filhos, casais que se vão distanciando, a vida moderna e citadina como uma razão para tudo isto, o pai sugere a determinada altura que se mudem para o campo, talvez não seja sem querer que o final é campestre, marítimo, longe da cidade, abrindo uma nova oportunidade de vida para Antoine - numa longa fuga que termina no mar, com Antoine a molhar os pés e a olhar directamente para a câmara.
Há outras duas cenas que me ficam na retina, as caras das crianças a ver um teatro de fantoches e a entrevista da psicóloga a Antoine. Na primeira, espantosa a forma como a câmara filma aquele deslumbramento infantil perante o simples e recorrente teatro manual; uma infância deslumbrada que corre o risco de cair na armadilha em que Antoine caiu, a morte do deslumbramento perante a rigidez de uma escola sem imaginação e de uma parentalidade ocupada. Aliás, Antoine tenta encontrar abrigo no cinema e nas feiras e salões de jogo, uma fuga em direcção a esse deslumbramento negado, também em casa, com algumas poucas excepções.
Na segunda cena, a entrevista é vista da posição da médica, com Antoine a olhar para a câmara, para nós, deixando-nos indecisos perante a veracidade das suas afirmações, estará a dizer a verdade ou a enganar a psicóloga? Eu diria que ambas as coisas.
Esta foi a cena que mais me impressionou, porque dizendo a verdade ou não, Antoine arraiga o filme na realidade, fala de abortos, de prostituição, de nascimentos fora do casamento, do final destes, uma visão realista, duas vezes a preto e branco, da sociedade francesa do seu tempo, e é um miúdo de 12 anos que a descreve, preso numa instituição.
Antoine Doinel teria a sua existência continuada em mais 3 longas e uma curta, a última de 1979, 20 anos após a estreia deste filme.
Um grande filme a começar esta Master Class de Cinema.

Acordo e me levanto,
porque tu me sustentas.
Clamo a ti, Tu me ouves, e respondes
Aos meus suspiros.
A Ti clamo, ouves o meu choro,
também a minha alegria.
Tu me conheces, a minha vida,
As minhas circunstâncias.
Ajuda-me a depender de ti,
a orar, a clamar, adorando-te.
Guia-me na tua justiça,
mantém-me fiel nas tormentas,
mas também quando azul é o céu.
É a tua benignidade que me sustenta.
Tu és o meu escudo,
em ti me quero gloriar,
És Tu quem levanta a minha cabeça,
quero orar.
Ajuda-me a depender de ti,
a orar, a clamar, adorando-te.
Tu salvaste-me, adotaste-me,
Quero ser uma pedra viva,
das águas vivas beber,
reconhecer a voz do Bom Pastor.
Ajuda-me a depender de ti,
oro, clamo, ajuda-me a depender de ti, adorando-te.
(Baseado nos Salmos 3 e 5)
Andamos por aqui e por ali,
sem saber bem porquê.
Somos levados pela melancolia,
pelo desespero,
toldados pela tristeza.
Encontraste-me ali,
quieto e só,
parado e cinzento.
Talvez tenhas pulado, falado muito,
talvez,
talvez tenhas dançado, gritado,
talvez,
mas foi o teu sorriso que me fez sair
da rua da amargura.
2011

segunda-feira, 29 de julho de 2019

The Power of Christian Contentment


The Power of Christian Contentment – Finding Deeper, Richer Christ-Centered Joy de Andrew Davis tem como base The Rare Jewel of Christian Contentment de Jeremiah Burroughs e versa sobre contentamento/satisfação. 

O livro está dividido em quatro partes: 
1)      o segredo do contentamento;
2)      como encontrar contentamento;
3)      o valor do contentamento;

4)      mantendo o contentamento.

Antes, durante e depois da leitura do livro houve um corinho que me veio à mente diversas vezes, apesar de sentir que o conteúdo do livro é mais profundo do que as quatro estrofes relembradas. 

Satisfação é ter a Cristo
Não há melhor prazer já visto
Sou de Jesus e agora eu sinto
Satisfação sem fim

Satisfação é nova vida
Eu com Jesus em alegria
Sempre cantando a melodia
Satisfação sem fim

Sim, paz real
Sim, gozo na aflição
Achei o segredo
É Cristo no coração

Satisfação é não ter medo
Pois meu Jesus, virá bem cedo
Logo, em glória, eu hei de vê-lo
Satisfação sem fim

Sendo um livro que tem como base uma obra puritana, o autor apresenta diversas listas ou pontos práticos para "levar a água ao nosso moinho", à semelhança dos puritanos o objectivo é não só apresentar algumas doutrinas, mas também mostrar o aspecto prático delas e a forma como as posso colocar em prática diariamente, i.e., da mente (compreensão) ao coração (afeições) e deste para a acção.

Na primeira parte, o autor defende que o mundo é marcado pelo descontentamento (as pessoas nunca estão verdadeiramente satisfeitas) e que o plano divino para os Cristãos passa muitas vezes pela existência de provações e por contentamento em Deus nestas ou apesar destas.

“Yet despite the value of this rich, full, continual contentment, and despite the fact that it is possible for every Christian in the world to experience it, this exquisite jewel is rare in our own lives. And how desperately the unsaved world needs Cristians to discover it.” p.14
Davis vai mais fundo, se o descontentamento de descrentes não surpreenderá cristãos, “the great tragedy is that so often we don´t really seem to live much differently. Many Christians hardly ever experience the daily foretaste of heaven that the Holy Spirit lives within us provide.” p.15

"Many Christians have such discontent lives that they are never asked by any of the similarly discontent unbelievers surrounding them to give a reason for the hope that they have (I Pd. 3:15), because they don´t evidently have any hope.” p.16

Acusei a pancada, lembrei-me de amigos descrentes em acampamentos estranharem alguns dos paradoxos cristãos, gozando com eles ou demonstrando estranheza por aceitarmos determinadas lógicas. 
Que diga o fraco forte sou
Diga o pobre rico estou
Por aquilo que Ele fez por nós.
Perceber que alguns notam esta pseudo-esquizofrenia nos que acreditam em Deus esbarra de frente com a acusação do autor de que não estaremos a viver uma vida satisfeita, antes pelo contrário, a vida de alguns de nós é pouco diferente da daqueles que não foram salvos por Cristo. Que frutos tem dado a minha vida, não deveria colocar o adjectivo à frente, mas lá vai, cristã? Encontro verdadeira satisfação em Cristo, ou cantarolo somente as mesmas linhas do cântico acima referido? Posso convencer alguém somente com base no que acredito, sem o praticar?

O que é, então, contentamento?
A definição, baseada em Burroughs, é a de encontrar prazer no plano sábio de Deus para a minha vida e humildemente deixar que Ele me dirija nela, de modo que Deus seja glorificado diariamente na minha vida, para que eu seja mais alegre e fonte de salvação para outros através do contentamento mostrado. Estes são dois dos pontos mais repetidos (e relevantes para mim) ao longo o livro, contentamento tem tudo a ver com providência e uma vida satisfeita (o contentamento cristão) serve de exemplo para os que estão à minha volta. 

O segundo capítulo foca o ensino de Paulo acerca do contentamento, nomeadamente com base em Filipenses 2: 12-16.
“As despairing lost people look on and see a buoyant peace and joy that is not based on favorable earthly circumstances but rather on faith in Christ, they will ask “you for a reason for the hope that is in you” (I Pd3:15). That hope shines most brilliantly when earthly circumstances are darkest, and the rare jewel of Christian contentment is a radiant source of that light.” p.25

“He who has God and everything else has no more than he who has God alone.”
 C.S. Lewis
“If we embrace that we have within our relationship with Christ everything we need for peace and joy at every single moment of our brief span here on earth, imagine how free we would be, in all our relationships, from self-giving clinginess or desperation.” p.33
 O meu relacionamento com Cristo é vivo e satisfatório no sentido de me contentar? Já passei da compreensão da verdade para a transformação das minhas afeições e para a prática e acção?

Na segunda parte, a definição de contentamento cristão é aprofundada, este é uma obra da salvação contínua pela graça através da fé, “é um milagre da graça soberana agindo com uma alma regenerada. Deus terá a  glória, nós a alegria.” p. 45
Davis explica ponto a ponto a definição de Burroughs,

“Christian Contentment is that sweet, inward, quiet, gracious frame of spirit which freely submits to and delights in God´s wise and fatherly disposal in every condition.”


Assim, o contentamento é uma atitude/disposição/mentalidade não amarga, não rebelde, trabalhada sobrenaturalmente pelo Espírito Santo em nós; que descansa na soberania e providência de Deus para connosco; que se submete de livre vontade. No entanto, vez após vez há o aviso de que o cristão deve ter um sentido apropriado de aflição e que deve colocar perante Deus as suas provações e aflições (I Pd.5:7; Sl. 10:1). O Cristão não é um estóico, a Bíblia dá-nos exemplos suficientes de orações a pedir libertação das provações para que o possamos e devamos fazer. 
Duas ideias importantes, o contentamento cristão é encontrar prazer no plano sábio de Deus para a minha vida e é importante compreender a união entre contentamento e providência. Ou seja Deus reina sobre todas as ocorrências de forma a salvar e santificar almas, isso faz com que eu procure encontrar, ou pelos menos perceber que existe, um propósito sábio e amoroso em tudo o que me acontece. Contentamento é compreender que Deus é soberano, que nenhum dos Seus planos é frustrado, que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que O amam, se Deus não joga dados com o universo, então Ele está no controlo da coisa e esse controlo tem em vista um povo resgatado e a Sua glória.

7 aspectos da mentalidade satisfeita
1) A satisfação do cristão nas piores circunstâncias anda de mãos dadas com uma necessária insatisfação com o mundo;
2) A aritmética divina consiste em tornar-nos satisfeitos em Cristo subtraindo dos nossos desejos (I Tim. 6:10, Sl. 37:4);
3)   Reconhecer o castigo justo que o nosso pecado merece;
4)  O contentamento em toda e qualquer circunstância é aprendido na escola do sofrimento. II Cor. 11:23-28;
5)  Agir no aqui e agora, se Deus me colocou num determinado tempo e espaço é neles que devo agir (Mt. 5:14-16; Ef. 2:10);
6)   Somos criaturas divididas: novas criaturas (II Cor. 5:17), mas o pecado ainda mora em nós (Rom. 7:17, 21-24; Gal. 5:17), isso faz com que a mortificação do pecado seja uma necessidade;
7)   Viver a vida que é um sopro esperando a eternidade com Cristo.

Depois de Paulo, Davis foca-se em Cristo como nosso exemplo de contentamento. Jesus ensina-nos contentamento pelo Seu exemplo (Fil. 2:6-7; II Cor. 5:21; Is. 53:5); pela forma como depende de Deus, como cumpriu o plano de Deus e tudo faz para a glória do Pai; pela Sua expiação; pela Sua ressurreição.

Se Cristo ministra contentamento pela Sua morte quanto mais pela Sua ressurreição? Se Jesus morto na cruz é um meio interminável de paz e alegria em quaisquer circunstâncias, quanto mais poder tem um Cristo vivo no céu para ministrar contentamento à Sua igreja em guerra?

Na parte três, é abordado o valor do contentamento.
O contentamento permite uma adoração mais excelente (Is. 43:6-7; Ef. 1:5-6).
  "In active obedience, we worship God by doing what pleases God, but by passive obedience we worship God by being pleased with what God does." Jeremiah Burroughs 
O contentamento redunda também numa compreensão mais profunda da vida cristã e de quem Deus é, a exaltação da total maturidade cristã vem após uma vida de humilhação quieta debaixo da sábia e paternal mão de Deus. Burroughs escolhe explicitar o carácter paternal de Deus em vez de o real, para que o seu leitor perceba que o Soberano do Universo estabeleceu uma relação filial com ele. 
O contentamento faz-nos mais difíceis de ser tentados – descontentamento é um estado de mente instável, incansável, nervoso. Pessoas satisfeitas estão debaixo da mão de Deus, satisfeitas com as bençãos simples que Deus lhes tem dado. I Tim. 6:8

Nesta terceira parte também há lugar para meditar acerca da murmuração e do queixume, Burroughs escreveu que “há maior mal no hábito da murmuração do que aquele que percebemos haver.” p.109
A queixa é o contrário da adoração e louvor (I Pd. 2:9 e Tiago 3:10), queixa essa que revela a corrupção das nossas almas.
Burroughs continua, “As contentment reveals much grace in the soul, strong grace, beautiful grace, so murmuring reveals much corruption, strong corruption, vile corruptions in your heart.” p.111
Davis conclui que para a alma é pior a murmuração do que qualquer aflição, não há algo como uma pequena murmuração, o seu resultado já é mau o suficiente. Murmuração é rebeldia, é algo contrário à piedade. 
     Deste modo, a murmuração é definida como sendo oposta à obra da conversão operada pelo Espírito Santo. Deste modo, se a conversão revela a grandeza do meu pecado, bem como a grandeza de Cristo; se recusa os prazeres deste mundo por Cristo e mostra a necessidade de me entregar totalmente a Cristo;  o murmúrio esquece a grandeza dos meus pecados; o quão majestoso e glorioso Cristo é, especialmente enquanto Salvador; o murmúrio esquece que nos entregamos totalmente a Cristo como nossa fonte de alegria; que nos submetemos a Ele como Rei.
      Como já referi, Davis coloca muitas vezes a questão como uma questão de testemunho, aqui não foge à regra.
God has put us on display in front of everyone we know, but specially our spouse and our children. We can make life bitter for the person we embraced on our wedding day and strongly tempt that loving soul to discontentment as well. Not only that, but if you have children, think of them. They have been watching your example for years, quietly drinking in how to react to "any and every circumstance". When you complain, you are training them to follow your bad example. p.119

Se formos amargos e queixosos, por que é que alguém quereria ser como nós, pediria ou perguntaria a razão da esperança que há em nós? Mais fundo, que exemplo de satisfação tenho sido em casa, com os que me conhecem melhor?
Esta terceira parte termina com a análise do contentamento quer no sofrimento, quer na prosperidade.

A quarta parte do livro é sobre guardar o contentamento.
Ao concluir o livro, o autor repete uma última vez a ideia de que estar satisfeito não é o mesmo que ser complacente e que as disciplinas espirituais podem ser importantes na tarefa de ficar e continuar a ser satisfeito.
Neste caso, é importante o papel diário das disciplinas espirituais, a Palavra de Deus renova as nossas mentes diariamente e impede ou dificulta o descontentamento; devemos evitar ou odiar a murmuração, pedir para que Deus nos sonde, pedir contentamento em oração, prepararmo-nos para sermos sal e luz, perceber que é uma luta constante, viver coram Deo, em oração, agradecendo em todas as circunstâncias, mortificando o pecado, guardando a boca, exercitando a fé, decorando e meditando em versículos bíblicos.

Por outro lado, conhecer e estudar acerca de heróis da fé na história da igreja, orar e conhecer sobre a igreja perseguida e envolver-me com missões, envolver-me com ministérios que me “estiquem”, procurar servir onde não me agradeçam/passe despercebido, visitar os idosos, doentes e à beira da morte mudará também a forma como penso, como me vejo e ajudar-me-á a compreender a providência de Deus na minha vida, mas especialmente, na vida de outros. Quando perceber que Cristo morreu não somente por mim, mas por muitos mais, quando perceber o que tem feito na história e no mundo compreenderei melhor o Seu poder, a Sua acção, a Sua soberania e providência.

Finalmente, uma questão prática e que tem a ver com a pregação que ouvi ontem.
Viver em comunidade implica também prestar contas aos outros e pedir contas a outros, um confronto santo, afiar pedra com pedra, duas perguntas que posso fazer aos que comigo estão numa comunidade local:  
1)      Vês padrões regulares de descontentamento na minha vida?
2)      Podes orar para que cresça no contentamento cristão em toda e qualquer circunstância?

E ter calma, porque o segredo do contentamento é perceber que se trata de uma corrida de longa distância, vai durar toda a vida.





quarta-feira, 10 de julho de 2019

É com alguma naturalidade que um leitor de comics lê histórias de personagens clássicas do medium (Homem-Aranha, Batman, Super-Homem e por aí adiante...) escritas e desenhadas por diversos autores, mais ou menos fieis ao espírito dos autores originais. Na banda-desenhada franco-belga existem algumas vacas sagradas, ou personagens que só foram tratadas pelos seus criadores, ou sagas que continuam até aos nossos dias mantendo-se, no entanto, fieis ao tratamento (narrativo e visual) dos seus criadores.

Li com interesse este Le Dernier Pharaon, bem como alguns dos comentários e críticas acerca do mesmo em alguns sites especializados. Consigo compreender a insatisfação de alguns fãs acérrimos da saga escrita e desenhada por E.P. Jacobs - não há linha clara, há muito Mortimer, pouco Blake, não há Olrik, a narrativa não segue os cânones Jacobsianos, aliás, podia ser um álbum das Cidades Obscuras de Schuiten. Consigo compreender as críticas, mas para a repetição do cânone já temos a série original e as contemporâneas. Manter a estrutura narrativa de Jacobs, independentemente desta se manter moderna ou não, não surpreendendo de alguma forma, isto é moldar um argumento à estrutura original, mantendo a "linha clara" tem sido concretizado por Yves Sente, Jean Dufaux, Van Hamme, Benoit, André Juillard, Sterne, De Spiegeleer, entre outros, com algumas nuances e críticas pontuais, principalmente a Van Hamme. 

O álbum é uma espécie de sequela espiritual a O Mistério da Grande Pirâmide, passando-se alguns anos depois deste. 
Dito isto, se é verdade que gosto muito dos álbuns originais e vou lendo as novas aventuras com maior ou menor satisfação, depende do álbum e da equipa criativa, não é menos verdade que gosto do que conheço de Schuiten e Le Dernier Pharaon acaba por ser a sua homenagem, com Thomas Gunzig e Jaco Van Dormael no argumento e Laurent Durieux nas cores, à obra de E. P. Jacobs. Não é Schuiten a contar uma história de Blake e Mortimer no formato e estilo do criador destes, mas Schuiten a contar à sua maneira uma história de Blake e Mortimer, acabando por ser um livro que não destoa de toda a sua obra. É Schuiten on fire, em boa forma.
Eu gostei e não achei sacrilégio nenhum!



Não nos arde o coração?

Não nos arde o coração?
Deus é a nossa salvação.
A Sua ira retirou-se e
Ficou a Sua consolação.
Tiremos água das fontes
Da salvação, cantai hinos,
Exaltai Cristo, anunciai-o!
Não nos arde o coração?
Consolo, salvação,
Minha rocha e meu refúgio,
Deus eterno, morto na cruz,
Não nos arde o coração?

baseado em Isaías 12
8 julho 2019