segunda-feira, 29 de julho de 2019

The Power of Christian Contentment


The Power of Christian Contentment – Finding Deeper, Richer Christ-Centered Joy de Andrew Davis tem como base The Rare Jewel of Christian Contentment de Jeremiah Burroughs e versa sobre contentamento/satisfação. 

O livro está dividido em quatro partes: 
1)      o segredo do contentamento;
2)      como encontrar contentamento;
3)      o valor do contentamento;

4)      mantendo o contentamento.

Antes, durante e depois da leitura do livro houve um corinho que me veio à mente diversas vezes, apesar de sentir que o conteúdo do livro é mais profundo do que as quatro estrofes relembradas. 

Satisfação é ter a Cristo
Não há melhor prazer já visto
Sou de Jesus e agora eu sinto
Satisfação sem fim

Satisfação é nova vida
Eu com Jesus em alegria
Sempre cantando a melodia
Satisfação sem fim

Sim, paz real
Sim, gozo na aflição
Achei o segredo
É Cristo no coração

Satisfação é não ter medo
Pois meu Jesus, virá bem cedo
Logo, em glória, eu hei de vê-lo
Satisfação sem fim

Sendo um livro que tem como base uma obra puritana, o autor apresenta diversas listas ou pontos práticos para "levar a água ao nosso moinho", à semelhança dos puritanos o objectivo é não só apresentar algumas doutrinas, mas também mostrar o aspecto prático delas e a forma como as posso colocar em prática diariamente, i.e., da mente (compreensão) ao coração (afeições) e deste para a acção.

Na primeira parte, o autor defende que o mundo é marcado pelo descontentamento (as pessoas nunca estão verdadeiramente satisfeitas) e que o plano divino para os Cristãos passa muitas vezes pela existência de provações e por contentamento em Deus nestas ou apesar destas.

“Yet despite the value of this rich, full, continual contentment, and despite the fact that it is possible for every Christian in the world to experience it, this exquisite jewel is rare in our own lives. And how desperately the unsaved world needs Cristians to discover it.” p.14
Davis vai mais fundo, se o descontentamento de descrentes não surpreenderá cristãos, “the great tragedy is that so often we don´t really seem to live much differently. Many Christians hardly ever experience the daily foretaste of heaven that the Holy Spirit lives within us provide.” p.15

"Many Christians have such discontent lives that they are never asked by any of the similarly discontent unbelievers surrounding them to give a reason for the hope that they have (I Pd. 3:15), because they don´t evidently have any hope.” p.16

Acusei a pancada, lembrei-me de amigos descrentes em acampamentos estranharem alguns dos paradoxos cristãos, gozando com eles ou demonstrando estranheza por aceitarmos determinadas lógicas. 
Que diga o fraco forte sou
Diga o pobre rico estou
Por aquilo que Ele fez por nós.
Perceber que alguns notam esta pseudo-esquizofrenia nos que acreditam em Deus esbarra de frente com a acusação do autor de que não estaremos a viver uma vida satisfeita, antes pelo contrário, a vida de alguns de nós é pouco diferente da daqueles que não foram salvos por Cristo. Que frutos tem dado a minha vida, não deveria colocar o adjectivo à frente, mas lá vai, cristã? Encontro verdadeira satisfação em Cristo, ou cantarolo somente as mesmas linhas do cântico acima referido? Posso convencer alguém somente com base no que acredito, sem o praticar?

O que é, então, contentamento?
A definição, baseada em Burroughs, é a de encontrar prazer no plano sábio de Deus para a minha vida e humildemente deixar que Ele me dirija nela, de modo que Deus seja glorificado diariamente na minha vida, para que eu seja mais alegre e fonte de salvação para outros através do contentamento mostrado. Estes são dois dos pontos mais repetidos (e relevantes para mim) ao longo o livro, contentamento tem tudo a ver com providência e uma vida satisfeita (o contentamento cristão) serve de exemplo para os que estão à minha volta. 

O segundo capítulo foca o ensino de Paulo acerca do contentamento, nomeadamente com base em Filipenses 2: 12-16.
“As despairing lost people look on and see a buoyant peace and joy that is not based on favorable earthly circumstances but rather on faith in Christ, they will ask “you for a reason for the hope that is in you” (I Pd3:15). That hope shines most brilliantly when earthly circumstances are darkest, and the rare jewel of Christian contentment is a radiant source of that light.” p.25

“He who has God and everything else has no more than he who has God alone.”
 C.S. Lewis
“If we embrace that we have within our relationship with Christ everything we need for peace and joy at every single moment of our brief span here on earth, imagine how free we would be, in all our relationships, from self-giving clinginess or desperation.” p.33
 O meu relacionamento com Cristo é vivo e satisfatório no sentido de me contentar? Já passei da compreensão da verdade para a transformação das minhas afeições e para a prática e acção?

Na segunda parte, a definição de contentamento cristão é aprofundada, este é uma obra da salvação contínua pela graça através da fé, “é um milagre da graça soberana agindo com uma alma regenerada. Deus terá a  glória, nós a alegria.” p. 45
Davis explica ponto a ponto a definição de Burroughs,

“Christian Contentment is that sweet, inward, quiet, gracious frame of spirit which freely submits to and delights in God´s wise and fatherly disposal in every condition.”


Assim, o contentamento é uma atitude/disposição/mentalidade não amarga, não rebelde, trabalhada sobrenaturalmente pelo Espírito Santo em nós; que descansa na soberania e providência de Deus para connosco; que se submete de livre vontade. No entanto, vez após vez há o aviso de que o cristão deve ter um sentido apropriado de aflição e que deve colocar perante Deus as suas provações e aflições (I Pd.5:7; Sl. 10:1). O Cristão não é um estóico, a Bíblia dá-nos exemplos suficientes de orações a pedir libertação das provações para que o possamos e devamos fazer. 
Duas ideias importantes, o contentamento cristão é encontrar prazer no plano sábio de Deus para a minha vida e é importante compreender a união entre contentamento e providência. Ou seja Deus reina sobre todas as ocorrências de forma a salvar e santificar almas, isso faz com que eu procure encontrar, ou pelos menos perceber que existe, um propósito sábio e amoroso em tudo o que me acontece. Contentamento é compreender que Deus é soberano, que nenhum dos Seus planos é frustrado, que todas as coisas contribuem para o bem daqueles que O amam, se Deus não joga dados com o universo, então Ele está no controlo da coisa e esse controlo tem em vista um povo resgatado e a Sua glória.

7 aspectos da mentalidade satisfeita
1) A satisfação do cristão nas piores circunstâncias anda de mãos dadas com uma necessária insatisfação com o mundo;
2) A aritmética divina consiste em tornar-nos satisfeitos em Cristo subtraindo dos nossos desejos (I Tim. 6:10, Sl. 37:4);
3)   Reconhecer o castigo justo que o nosso pecado merece;
4)  O contentamento em toda e qualquer circunstância é aprendido na escola do sofrimento. II Cor. 11:23-28;
5)  Agir no aqui e agora, se Deus me colocou num determinado tempo e espaço é neles que devo agir (Mt. 5:14-16; Ef. 2:10);
6)   Somos criaturas divididas: novas criaturas (II Cor. 5:17), mas o pecado ainda mora em nós (Rom. 7:17, 21-24; Gal. 5:17), isso faz com que a mortificação do pecado seja uma necessidade;
7)   Viver a vida que é um sopro esperando a eternidade com Cristo.

Depois de Paulo, Davis foca-se em Cristo como nosso exemplo de contentamento. Jesus ensina-nos contentamento pelo Seu exemplo (Fil. 2:6-7; II Cor. 5:21; Is. 53:5); pela forma como depende de Deus, como cumpriu o plano de Deus e tudo faz para a glória do Pai; pela Sua expiação; pela Sua ressurreição.

Se Cristo ministra contentamento pela Sua morte quanto mais pela Sua ressurreição? Se Jesus morto na cruz é um meio interminável de paz e alegria em quaisquer circunstâncias, quanto mais poder tem um Cristo vivo no céu para ministrar contentamento à Sua igreja em guerra?

Na parte três, é abordado o valor do contentamento.
O contentamento permite uma adoração mais excelente (Is. 43:6-7; Ef. 1:5-6).
  "In active obedience, we worship God by doing what pleases God, but by passive obedience we worship God by being pleased with what God does." Jeremiah Burroughs 
O contentamento redunda também numa compreensão mais profunda da vida cristã e de quem Deus é, a exaltação da total maturidade cristã vem após uma vida de humilhação quieta debaixo da sábia e paternal mão de Deus. Burroughs escolhe explicitar o carácter paternal de Deus em vez de o real, para que o seu leitor perceba que o Soberano do Universo estabeleceu uma relação filial com ele. 
O contentamento faz-nos mais difíceis de ser tentados – descontentamento é um estado de mente instável, incansável, nervoso. Pessoas satisfeitas estão debaixo da mão de Deus, satisfeitas com as bençãos simples que Deus lhes tem dado. I Tim. 6:8

Nesta terceira parte também há lugar para meditar acerca da murmuração e do queixume, Burroughs escreveu que “há maior mal no hábito da murmuração do que aquele que percebemos haver.” p.109
A queixa é o contrário da adoração e louvor (I Pd. 2:9 e Tiago 3:10), queixa essa que revela a corrupção das nossas almas.
Burroughs continua, “As contentment reveals much grace in the soul, strong grace, beautiful grace, so murmuring reveals much corruption, strong corruption, vile corruptions in your heart.” p.111
Davis conclui que para a alma é pior a murmuração do que qualquer aflição, não há algo como uma pequena murmuração, o seu resultado já é mau o suficiente. Murmuração é rebeldia, é algo contrário à piedade. 
     Deste modo, a murmuração é definida como sendo oposta à obra da conversão operada pelo Espírito Santo. Deste modo, se a conversão revela a grandeza do meu pecado, bem como a grandeza de Cristo; se recusa os prazeres deste mundo por Cristo e mostra a necessidade de me entregar totalmente a Cristo;  o murmúrio esquece a grandeza dos meus pecados; o quão majestoso e glorioso Cristo é, especialmente enquanto Salvador; o murmúrio esquece que nos entregamos totalmente a Cristo como nossa fonte de alegria; que nos submetemos a Ele como Rei.
      Como já referi, Davis coloca muitas vezes a questão como uma questão de testemunho, aqui não foge à regra.
God has put us on display in front of everyone we know, but specially our spouse and our children. We can make life bitter for the person we embraced on our wedding day and strongly tempt that loving soul to discontentment as well. Not only that, but if you have children, think of them. They have been watching your example for years, quietly drinking in how to react to "any and every circumstance". When you complain, you are training them to follow your bad example. p.119

Se formos amargos e queixosos, por que é que alguém quereria ser como nós, pediria ou perguntaria a razão da esperança que há em nós? Mais fundo, que exemplo de satisfação tenho sido em casa, com os que me conhecem melhor?
Esta terceira parte termina com a análise do contentamento quer no sofrimento, quer na prosperidade.

A quarta parte do livro é sobre guardar o contentamento.
Ao concluir o livro, o autor repete uma última vez a ideia de que estar satisfeito não é o mesmo que ser complacente e que as disciplinas espirituais podem ser importantes na tarefa de ficar e continuar a ser satisfeito.
Neste caso, é importante o papel diário das disciplinas espirituais, a Palavra de Deus renova as nossas mentes diariamente e impede ou dificulta o descontentamento; devemos evitar ou odiar a murmuração, pedir para que Deus nos sonde, pedir contentamento em oração, prepararmo-nos para sermos sal e luz, perceber que é uma luta constante, viver coram Deo, em oração, agradecendo em todas as circunstâncias, mortificando o pecado, guardando a boca, exercitando a fé, decorando e meditando em versículos bíblicos.

Por outro lado, conhecer e estudar acerca de heróis da fé na história da igreja, orar e conhecer sobre a igreja perseguida e envolver-me com missões, envolver-me com ministérios que me “estiquem”, procurar servir onde não me agradeçam/passe despercebido, visitar os idosos, doentes e à beira da morte mudará também a forma como penso, como me vejo e ajudar-me-á a compreender a providência de Deus na minha vida, mas especialmente, na vida de outros. Quando perceber que Cristo morreu não somente por mim, mas por muitos mais, quando perceber o que tem feito na história e no mundo compreenderei melhor o Seu poder, a Sua acção, a Sua soberania e providência.

Finalmente, uma questão prática e que tem a ver com a pregação que ouvi ontem.
Viver em comunidade implica também prestar contas aos outros e pedir contas a outros, um confronto santo, afiar pedra com pedra, duas perguntas que posso fazer aos que comigo estão numa comunidade local:  
1)      Vês padrões regulares de descontentamento na minha vida?
2)      Podes orar para que cresça no contentamento cristão em toda e qualquer circunstância?

E ter calma, porque o segredo do contentamento é perceber que se trata de uma corrida de longa distância, vai durar toda a vida.





quarta-feira, 10 de julho de 2019

É com alguma naturalidade que um leitor de comics lê histórias de personagens clássicas do medium (Homem-Aranha, Batman, Super-Homem e por aí adiante...) escritas e desenhadas por diversos autores, mais ou menos fieis ao espírito dos autores originais. Na banda-desenhada franco-belga existem algumas vacas sagradas, ou personagens que só foram tratadas pelos seus criadores, ou sagas que continuam até aos nossos dias mantendo-se, no entanto, fieis ao tratamento (narrativo e visual) dos seus criadores.

Li com interesse este Le Dernier Pharaon, bem como alguns dos comentários e críticas acerca do mesmo em alguns sites especializados. Consigo compreender a insatisfação de alguns fãs acérrimos da saga escrita e desenhada por E.P. Jacobs - não há linha clara, há muito Mortimer, pouco Blake, não há Olrik, a narrativa não segue os cânones Jacobsianos, aliás, podia ser um álbum das Cidades Obscuras de Schuiten. Consigo compreender as críticas, mas para a repetição do cânone já temos a série original e as contemporâneas. Manter a estrutura narrativa de Jacobs, independentemente desta se manter moderna ou não, não surpreendendo de alguma forma, isto é moldar um argumento à estrutura original, mantendo a "linha clara" tem sido concretizado por Yves Sente, Jean Dufaux, Van Hamme, Benoit, André Juillard, Sterne, De Spiegeleer, entre outros, com algumas nuances e críticas pontuais, principalmente a Van Hamme. 

O álbum é uma espécie de sequela espiritual a O Mistério da Grande Pirâmide, passando-se alguns anos depois deste. 
Dito isto, se é verdade que gosto muito dos álbuns originais e vou lendo as novas aventuras com maior ou menor satisfação, depende do álbum e da equipa criativa, não é menos verdade que gosto do que conheço de Schuiten e Le Dernier Pharaon acaba por ser a sua homenagem, com Thomas Gunzig e Jaco Van Dormael no argumento e Laurent Durieux nas cores, à obra de E. P. Jacobs. Não é Schuiten a contar uma história de Blake e Mortimer no formato e estilo do criador destes, mas Schuiten a contar à sua maneira uma história de Blake e Mortimer, acabando por ser um livro que não destoa de toda a sua obra. É Schuiten on fire, em boa forma.
Eu gostei e não achei sacrilégio nenhum!



Não nos arde o coração?

Não nos arde o coração?
Deus é a nossa salvação.
A Sua ira retirou-se e
Ficou a Sua consolação.
Tiremos água das fontes
Da salvação, cantai hinos,
Exaltai Cristo, anunciai-o!
Não nos arde o coração?
Consolo, salvação,
Minha rocha e meu refúgio,
Deus eterno, morto na cruz,
Não nos arde o coração?

baseado em Isaías 12
8 julho 2019