quarta-feira, 10 de julho de 2019

É com alguma naturalidade que um leitor de comics lê histórias de personagens clássicas do medium (Homem-Aranha, Batman, Super-Homem e por aí adiante...) escritas e desenhadas por diversos autores, mais ou menos fieis ao espírito dos autores originais. Na banda-desenhada franco-belga existem algumas vacas sagradas, ou personagens que só foram tratadas pelos seus criadores, ou sagas que continuam até aos nossos dias mantendo-se, no entanto, fieis ao tratamento (narrativo e visual) dos seus criadores.

Li com interesse este Le Dernier Pharaon, bem como alguns dos comentários e críticas acerca do mesmo em alguns sites especializados. Consigo compreender a insatisfação de alguns fãs acérrimos da saga escrita e desenhada por E.P. Jacobs - não há linha clara, há muito Mortimer, pouco Blake, não há Olrik, a narrativa não segue os cânones Jacobsianos, aliás, podia ser um álbum das Cidades Obscuras de Schuiten. Consigo compreender as críticas, mas para a repetição do cânone já temos a série original e as contemporâneas. Manter a estrutura narrativa de Jacobs, independentemente desta se manter moderna ou não, não surpreendendo de alguma forma, isto é moldar um argumento à estrutura original, mantendo a "linha clara" tem sido concretizado por Yves Sente, Jean Dufaux, Van Hamme, Benoit, André Juillard, Sterne, De Spiegeleer, entre outros, com algumas nuances e críticas pontuais, principalmente a Van Hamme. 

O álbum é uma espécie de sequela espiritual a O Mistério da Grande Pirâmide, passando-se alguns anos depois deste. 
Dito isto, se é verdade que gosto muito dos álbuns originais e vou lendo as novas aventuras com maior ou menor satisfação, depende do álbum e da equipa criativa, não é menos verdade que gosto do que conheço de Schuiten e Le Dernier Pharaon acaba por ser a sua homenagem, com Thomas Gunzig e Jaco Van Dormael no argumento e Laurent Durieux nas cores, à obra de E. P. Jacobs. Não é Schuiten a contar uma história de Blake e Mortimer no formato e estilo do criador destes, mas Schuiten a contar à sua maneira uma história de Blake e Mortimer, acabando por ser um livro que não destoa de toda a sua obra. É Schuiten on fire, em boa forma.
Eu gostei e não achei sacrilégio nenhum!



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