segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Brevíssimas de Cinema

Tenho definitivamente um problema com Jordan Peele.
Não consegui ficar fã de Get Out por considerá-lo uma cópia de Skeleton Key, a ciência é trocada pela magia e o enfoque no racismo é mais vincado no filme de Peele, por isso, o final deixou-me um sabor acre na boca. O que me parecia original afinal revelou-se uma repescagem.
US parece-me um filme superior em tudo ao anterior, boas interpretações, uma banda sonora apelativa, sentido de humor negro, uma visão cáustica da contemporaneidade, o mistério e a estranheza da narrativa, mas o final quase que deita o filme abaixo, é preguiçoso, não faz sentido e, em vez de me surpreender, confirmou-me as dificuldades que tenho com Peele, aprofundadas com os três episódios de Twilight Zone que vi e que me levaram a rever os originais.
Peele faz da raça tema de filmes de terror, o que é salutar, e fá-lo de forma interessante, incomodando o espectador, fazendo-o duvidar da realidade que vê, mas a forma como termina as narrativas irrita-me, parecendo querer puxar um Shymalan a cada momento diminui a qualidade do que criou até aí.


Gostei menos de The Marriage Story do que esperava, o contexto e determinados aspectos narrativos pareceram-me demasiado americanos, explicito, o contexto legal e litigioso é demasiado americano e quase que se torna o centro do filme - tirem os advogados e digam-me com o que ficam. Adam Driver é majestoso na interpretação. Num filme de actores (Liotta e Dern estão excelentes, ainda que me pareça que as personagens são serão do mais complicado que tenham representado, e para ser mais divisor, Scarlett Johanson não me convenceu) ele brilha com fulgor. Não vejo Kramer contra Kramer desde a década de 90, mas parece-me um filme mais equilibrado, realista e objectivo acerca do divórcio. É capaz de ser fruto de anos e anos a ver Bergman, Allen e outros a escreverem e realizarem filmes superiores sobre divórcios e relacionamentos conjugais.

The Two Popes é também um filme de actores, mais entradotes, em que a interpretação, nomeadamente a de Hopkins, pode ser vista mais como envelhecimento do que como arte. O passado de Bergoglio é mais escalpelizado, o de Ratzinger fica-se pela crítica fácil da opinião pública. O gelo germânico e o à vontade sul-americano entram em choque, tanto nos costumes e hábitos, como na visão teológica e nos relacionamentos.
Num filme com tanto para me desinteressar, Two Popes surpreende pelo sentido de humor e definição psicológica das personagens. Um estudo sobre as diferenças entre estes dois homens. 
Um católico dos 7 costados poderá ter bastantes mais problemas com a narrativa do que eu!