segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Pregação do casamento do Isma e Inês - 14/05/2016

Efésios: 5:18-33
Deixem-me começar com uma teoria sobre a percepção do casamento, via cultura popular, nomeadamente, através da televisão, cinema e livros. A cultura popular tem uma visão cínica do casamento.
Os livros, as séries de tv e os filmes abordam os relacionamentos amorosos, o namoro e relacionamentos extra-conjugais com todas as ganas; mas o casamento fica fora da excitação.
Roemos as unhas até ao sabugo para saber se (ou quando) as personagens principais vão ficar juntas, mas raramente o casamento tem o mesmo tempo de antena, interesse ou excitação do que um namoro ou um caso extra-conjugal.
O Clark Kent já não está casado com a Lois Lane.
O Peter Parker já não está casado com a Mary Jane.
O fox Mulder já não está casado com a Danna Scully.
E por aí além…
É difícil escrever sobre casamento, porque o casamento é chato ou então um meio para fins pouco ortodoxos. Há algum casamento recomendável em Game of Thrones?
Ao absorvermos a cultura à nossa volta, absorvemos a visão do casamento veiculada por ela.

Olhemos para o texto lido, Efésios 5:18-33, para vermos a visão cristã acerca do casamento.
  1. 18 – “Enchei-vos do Espírito.”
  2. 21 – “sujeitando-vos uns aos outros no temor de Cristo.”
Quando o Antigo Testamento fala de temor ao Senhor, está a dizer-nos que esse temor altera a minha relação com Deus. Temer, neste sentido, é ser tomado de espanto diante da grandeza e do amor de Deus. O temor de Deus “liberta-nos” para o serviço, mas Paulo vai palicar o temor a Deus e o serviço mútuo ao casamento!
Neste contexto, são duas expressões que querem dizer o mesmo, o que está cheio do Espírito Santo teme a Deus. São duas expressões que tiram o foco dos meus esforços para o colocar na acção de Deus na minha vida. (I Jo. 4:19)
É possível ser descrente e ser casado, mas não é possível divorciar a fé do casamento, aliás a fé enriquece, aprofunda o casamento!
Se o casamento é serviço, então é mais acção do que sentimentos!
Neste dia de alegria, felicidade, comida e bebida deixem-me dizer “O casamento não é fácil, concordam comigo?”
Conheço casamentos que duraram a lua de mel, há alguns que nem à lua de mel chegaram! A ideia é “ se estás mal, muda-te!”
Inês, Ismael, o casamento é sobre mudanças e o vosso vai assistir a muitas mudanças.
A visão protestante sempre viu o casamento como uma lugar para formar carácter na união de um homem e de uma mulher.
A interpretação clássica protestante acerca do casamento é a de que é um dom de Deus para a Humanidade. Tem o objectivo de povoar a terra, tem um objectivo de desenvolvimento social (um “local” onde educar crianças em harmonia e amor), é uma escola de aprendizagem, serve para controlar paixões, para negar desejos, para servir um ao outro e a outros.
No século XVIII, com o Iluminismo, a visão cultural do casamento muda porque a visão do homem muda, ao abandonar Deus o homem torna-se livre para fazer o que quer, como bem lhe apetecer, usualmente em função dos seus gostos, prazeres e vontade.
Assim temos duas visões do casamento:
  • Uma instituição que visa o bem comum (nós)
  • Uma visão que visa a satisfação do indivíduo (Eu)
Vocês são dois indivíduos, se ignorarem o nós, se cada um quiser satisfazer o seu ego vai haver problemas!
O Isma e a Inês reconhecem que são pecadores. Essa é a base de um casamento cristão. 2 pessoas imperfeitas, pecadoras que se unem para criar um espaço de consolo, amor e estabilidade debaixo da misericórdia de Deus! Quando nos casamos há mudanças e não há modo de antecipar todas essas mudanças.
Paulo refere-se ao casamento como uma mistério (v.32), porque Paulo está a dizer que só compreendemos totalmente o casamento, só cumpriremos bem o nosso papel no casamento, quando virmos o casamento como uma imagem do relacionamento entre Cristo e a Igreja. Um dos propósitos de Deus para o casamento é retratar a relação entre Cristo e o Seu povo resimido.
Cristo não se aproveitou da sua igualdade com o Pai (Fil. 2), mas tomou a forma de servo, morreu, mas Deus o ressucitou dos mortos.
O casamento só funciona quando se aproxima do modelo de amor abnegado de Deus em Cristo. Quando Deus inventou o casamento já pensava na obra redentora de Cristo!
Somos mais pecadores e imperfeitos do que imaginamos, mas também somos mais amados e aceites em Jesus do que possamos almejar.
O amor salvador de Jesus é caracterizado  por esta verdade radical – somos pecadores; mas também por esta outra, se Jesus é teu salvador, ele tem um compromisso radical e incondicional contigo.
“O único lugar além do céu onde se pode estar perfeitamente a salvo dos riscos e perturbações do amor é o inferno.” C.S. Lewis
Isma e Inês, vão existir perturbações no vosso casamento:
  • Confessem os vossos pecados uns aos outros e a Deus;
  • Dependam de Deus.
v.21 – “sujeitem-se uns aos outros no temor de Cristo”
De que forma?
  1. 22 – “Mulheres sejam submissas” (submissão)
  2. 25 – “Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela.” (Amor Sacrificial)
A submissão faz-nos coceira aos nossos ouvidos ocidentais. O argumento é aprender a servir uns aos outros no poder do Espírito Santo. Paulo está a escrever a uma igreja, a dizer-lhe para ser cheia do Espírito Santo e depois aplica este argumento ao casamento. Paulo tem uma visão espiritual do casamento, se não estivermos cheios do Espírito Santo não serviremos bem o noso conjuge. Como é que sabemos que tememos a Cristo e estamos cheios do Espírito Santo? Mulher casada, se és submissão ao teu esposo. Homem casado, se a amas com amor sacrificial.
Paulo está a desafiar os conjuges a viver um para o outro e não para si mesmos! A fazê-lo no temor de Cristo. (Fil. 2:3)
Paulo coloca o conjuge num duplo papel: conjuge e irmão em Cristo.
O princípio bíblico, atestado por Paulo, no casamento é o da liderança/autoridade masculina, mas ao trazer esta noção de serviço e ao estabelecer que a mulher é uma irmã em Cristo, a ideia de autoridade é alterada. Não é uma autoridade fascista, cega. Para ser sincero, o Isma ficou com a fava – amor sacrificial, em último caso é chamado a dar a sua vida pela Inês!
I Cor. 13:4-5
O serviço sacrificial redunda em felicidade, esta é uma ideia estranha, para nós, veiculada pela Bíblia!
Quando procuramos servir o outro dentro do casamento em vez de procurar a minha própria alegria, vou encontrar a minha felicidade!!!
O casamento é uma aliança diante de Deus e com Deus. É um voto vertical, com Deus; e um voto horizontal, um com o outro.
A aliança é a combinação entre lei e amor. Tim Keller diz que o amor precisa de uma estrutura de obrigação e compromisso. O namoro é uma relação de consumo, há necessidade de promoção, temos a Inês em photoshop, o Isma em photoshop.
Muitos casamentos terminam porque não percebem que o casamento nos obriga a despir, não só fisicamente, mas também psicologicamente. Temos de ser nós mesmos, com as nossas falhas e pecados 24h, perante o outro. Vocês vão estar diante um do outro sem photoshop!
Os votos de casamento não são presentes, mas votos de amor futuro, a promessa que fazem hoje é um meio para a liberdade e felicidade. A estrição de liberdade no presente é para estarem ao lado de pessoas de confiam em vós. Escondemos o nosso pior dos outros, o casamento é o local para nos desvelarmos ao outro. Se o outro não me conhecer realmente, ele nunca me poderá amar verdadeiramente. Muitas das vezes, a noção de paixão que sentimos é uma erupção de gratificação do ego, mas não ainda a satisfação profunda de ser conhecido e amado.
Daqui a uns anos, quando a Inês conhecer o pior do Ismael, os seus pontos fracos e falhas, os seus pecados e ainda assim se comprometer com ele, isso será uma experiência mais completa e suprema. E vice-versa.
Com o tempo, vão descobrir realmente como é o outro e amá-lo por ele ser quem é, não só pelo prazer publicitário e do ego que proporciona.
Isma, atenta nestes dois versículos:
  1. 25 – “Amai vossa mulher”
v.28 – “devem amar a vossa esposa”
Estes dois versos explicitam uma obrigação, porque há alturas em que não vais sentir grande amor pela Inês, dias em que te vais esquecer do dia de hoje e dos votos de casamento.
Os sentimentos mudam de intensidade, se seguirmos a nossa cultura o normal é o fim do casamento, o abandono!
Age, ama, haverá alturas em que não te sentirás particularmente carinhoso, queres ir jogar à bola ou ver bola, não vais querer ajudar na lida da casa, falar com a Inês ou perdoar a Inês. A prática do amor fará com que os sentimentos se tornem mais constantes.
Terminando, qual é a missão última do casamento?
Se são irmãos em Cristo, ajudar mutuamente a alcançar a identidade gloriosa da nova criação.
O casamento deve ser um processo de refinamento espiritual mútuo. O casamento não é o culminar da procura pela pessoa ideal, é um processo de santificação a dois. Se o conjuge for somente o parceiro sexual ou financeiro, facilmentre descobriremos que precisamos de actividade fora do casamento para nos sentirmos satisfeitos. Se o conjuge for o nosso melhor amigo, o casamento será o relacionamento mais importante da vossa vida.
Muitos casamento entre cristãos começam com a ideia de jornada em direcção de Deus como algo acessório. A fé é encarada somente como factor de compatibilidade.
Há uma cena da cultura popular, acerca do casamento, que me toca especialmente, é no filme Duelo Imortal (Highlander). Nesse filme, um imortal casa com uma escocesa mortal.
O plano é nas terras altas escocesas onde vivem e constroem a sua casa. Vemos o dia a dia feliz deles. As estações do ano passam, e o que transparece é a felicidade do casal.
Vamos Connor a afastar-se de cavalo, e mais tarde a voltar e chamar por ela…ela responde, e vem do vale, lentamente, Connor continua com o mesmo ar de trintão saudável, ela é uma anciã fraquinha.
No seu leito de morte, ela, velhinha e fraca, ele a vender saúde como nunca, ela pergunta-lhe:
– Por que é que ficaste?
– Porque te amo como desde o dia em que te conheci.
– Não quero morrer. Quero ficar contigo para sempre.
– Também quero isso.
Eles não ficaram juntos para sempre, ela morre e o filme continua. Mas o casamento serve para se ajudarem mutuamente a conhecerem-se melhor, a amar um ao outro, mas também a amar e servir Deus, a serem seus imitadores a caminho da Jerusalém Espiritual. (Cant. 8:6-7)

Sem comentários:

Enviar um comentário