terça-feira, 24 de março de 2020

The Big Country

The Big Country é um western de William Wyler, um daqueles realizadores subvalorizados por ter realizado todos os géneros e mais alguns, ser um excelente "tarefeiro", mas sem se dedicar a uma filmografia muito pessoal, com exceção talvez do que filmou no final da década de 1930 e durante toda a década de 1940 (dele são Ben-Hur, Roman Holiday, The Best Years of our Lives, The Letter, Jezebel, Mrs. Miniver, Funny Lady). A verdade é que os filmes, pelo menos os que vi, têm sempre um cunho pessoal, o último plano de Roman Holiday é delicioso, ou então sou eu que estou a tentar ver mais do que lá está, e este The Big Country é uma boa prova disso mesmo, como o plano da luta entre James McKay (Gregory Peck) e Steve Leech (Charlton Heston), para dar somente um exemplo.

Não sei se The Big Country é um western ou um anti-western, estão lá todos os temas recorrentes do género, a imensidão do território, a luta por território, os conflitos familiares e humanos numa comunidade, bem como a apatia/habituação dessa comunidade para com esses conflitos, o aparecimento de um estranho numa comunidade, enfim, faltam os índios, mas nem todos os westerns vivem do conflito entre índios e caras pálidas. Mas o filme não dá as cartas da mesma forma que um western dá, talvez porque a personagem de Peck nunca tente ser ou aja como um cowboy, é um marinheiro, com um determinado código e age de acordo com isso. 

McKay (Peck) é, então, não só o estranho porque chega a um sítio onde todos se conhecem, mas também pela forma de lidar com os problema que foge à regra, fugindo aos cânones do género. Talvez por isso a esposa, que não é fã de cowboiadas, tenha gostado tanto deste filme, a verdade é que se as temáticas estão cá e o clímax não foge ao usual, o filme balança entre o género e a fuga a este. 

A história é simples, talvez demasiado simples para 2h30 de filme, mas a verdade é que o filme não cansa e não perde fôlego. 
Chuck Connors, Gregory Peck e Carol Baker
O oficial James McKay (Peck) chega ao oeste para se juntar à noiva Patricia (Carol Baker), filha de Henry Terril (Charles Bickford), conhecido por todos como Major. A chegada é marcada pelo encontro com o grupo de Buck Hannassey (Chuck Connors), filho do inimigo do Major, Rufus Hannassey (Burl Ives). Mckay surpreende nesse momento, e em vários posteriores, a noiva pela forma como age ou, como na visão dela, não age. A presença deste corpo estranho e das suas idiossincrasias vai levar a mais alguns achaques com Steve Leech (Charlton Heston), o braço direito de Terril, apaixonado por Patricia. Os conflitos então vão-se multiplicando, entre os Terrils e os Hanasseys,  com a professora Julie Maragon (Jean Simmons) no meio, dona do terreno cobiçado pelas duas famílias, entre McKay e todos os outros, nomeadamente, a sua noiva e Leech. O final é formulaico, os relacionamentos (as suas indecisões e conclusões) estão à vista quase desde o primeiro momento, mas a dinâmica narrativa e o interesse pelo filme não diminuem por causa disso. Aliás, o o interessante na fórmula está não na forma como é utilizada, mas na forma como resulta e aqui vai resultando porque as personagens são cinzentas, passamos da certeza que um dos lados é o bom, para a certeza que nenhum é perfeito, há uma humanidade espelhada quase antagonicamente entre os homens da família e os seus capatazes, as personagens vão-se dando a conhecer, nas suas qualidades e defeitos, quase como se só pelo olhar de um estranho isso fosse possível.

Wyler usa o título The Big Country (na versão portuguesa Da Terra Nascem os Homens) como mote para diversos planos que acentuam a vastidão do território, quase tão vasto como a cobiça e desejo humanos que levam aos conflitos narrados. Os planos da visita de McKay a Maragon, da já citada luta, os planos iniciais e finais mostram a vastidão do território. Se o território é tão vasto porque é que causa tantas lutas e amores? Não haverá terra para todos? O elenco é sólido, Gregory Peck e Jean Simmons são eles mesmos, ganham e prendem-nos ao ecrã, Heston faz um raro papel secundário (acho-o sempre ligeiramente canastrão), mas é Burl Ives que se destaca, aliás o carisma e competência de Ives demonstra ainda mais a infeliz escolha de Bickford para antagonista deste, estão nos antípodas um do outro, um é grande, quase que não precisa de abrir a boca para fazer sentir a sua presença, mas quando a abre... é assombroso. Bickford não tem grande presença física, talvez nos convença antes de Ives entrar em casa deste durante a festa, mas a partir daí faz confusão a escolha.

Burl Ives
Resumindo, talvez não seja um daqueles westerns que nos vem à cabeça, mas The Big Country é um excelente filme, para amantes do género e não só.




Peck e Simmons


Peck e Simmons


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