terça-feira, 5 de novembro de 2019



Shoplifters, de Hirokazu Kore-eda (2018)
O filme apresenta-nos uma família sui generis, uma avó, um casal, uma rapariga e um rapaz que vivem em condições deploráveis. Apesar de irem trabalhando, os rendimentos pouco mais dão do que para sobreviver, pelo que vão vivendo de uma série de pequenos roubos e estratagemas. Quando o pai e o filho encontram uma menina, vítima de maus tratos e subnutrição, toda a família a adopta, mostrando toda a sua humanidade e empatia no decorrer dessa acção.
O filme dura duas horas e quarenta minutos, o dia a dia da família é escalpelizado, percebemos a humanidade dos seus intervenientes, as ligações que existem e se vão fortalecendo entre eles.
As dificuldades do Japão moderno são descritas, a inconstância profissional, a ausência de segurança profissional, a indústria do sexo como escape profissional e como retrato das dificuldades de relacionamento ou como paradigma de novos relacionamentos, os chat-rooms sexuais, por exemplo, da dificuldade em viver com poucos recursos, mas o filme também consegue ser luminoso, com as pequenas conquistas vividas em família, da casa como castelo mesmo quandose vive numa "barraca", do amor, da abnegação, do sacrifício.
Uma cena belíssima, o rapaz ensina a rapariga "adoptada" a roubar, o dono do estabelecimento deixa-os levar a cabo o roubo, chama-os, dá-lhes dois gelados e diz ao miúdo para não a ensinar a roubar, perante o ar atónito deste.

O filme parece ser uma comédia de certos costumes, uma imagem delicodoce de uma comunidade nas frestas da sociedade, e é, mas termina de uma forma que passa a ser bem mais do que isso, uma crítica à sociedade contemporânea japonesa, e um hino à família ou ao espírito familiar.
8/10



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