Tanner (Ben Foster) e Toby (Chris Pine) Howard são dois irmãos que roubam pequenas dependências bancárias para arranjar o valor necessário para pagar a hipoteca do rancho que pertencia aos pais, e onde foi descoberto petróleo.
Hell or High Water é um filme actual, uma fotografia de uma certa América, em que o inimigo é um banco (!), que não entra em pregações desnecessárias, mas mostra, mais do que o lado humano, presente na figura dos dois protagonistas, o lado geográfico e social, os planos do Texas, marcados pela exploração de petróleo, pelas planícies vazias, pela vida diária das pequenas populações, pelos bancos e placards/posters publicitários das ofertas de empréstimos. O filme mostra a realidade de uma América longe da prosperidade, numa terra de ouro preto, conquistada não já pelos brancos, mas pelos bancos.
O Texas que nos é apresentado já não é o dos westerns, das planícies que prometiam nova vida e riqueza, mas o de uma América mal acordada de um sonho mau, em que o american way of life parece estar a escapar entre os dedos. Hamilton brinca maliciosamente com o índio, seu parceiro, em diversas conversas, continuando a "luta" entre brancos e índios.
O elenco e as interpretações são sólidos, há momentos deliciosos, por exemplo, o primeiro assalto, com um velhote a sacar da arma, a cultura de armas americana, ainda para mais no Texas, é deliciosamente ilustrada nesta e noutras cenas; Jeff Bridges irrita (no melhor dos sentidos) como Marcus Hamilton, um polícia a dias da reforma, que fala como se tivesse a boca cheia de favas, vencendo o round interpretativo no confronto final com Chris Pine. Há momentos ilustrativos da cultura texana e dos problemas dessa região, o Rock evangélico a soar na rádio, os casinos.
Não é um fime sujo, mas não tem a estética limpa de outros, os assaltos são realizados de forma pouco artística, sem grandes coreografias- É road movie cru, com ligeiras incursões ao ambiente de Cormac McCarthy, ligeiramente violento, mas conciliador, não é moralista, mas acredita em segundas chances, o que é um risco. Corria o risco de glorificar a violência, ou a ideia de que os meios desculpam os fins, não o faz de forma efectiva, opta por valorizar os laços entre os dois irmãos, criticar a acção dos bancos na vida dos cidadãos comuns, culminado na tentativa de criar algo bom e duradouro.
É um belíssimo quadro melancólico, doce-amargo, que me concilia com o cinema americano moderno, cheio de efeitos especiais, com pouco conteúdo ou com muito estilo e pouco conteúdo.
Altamente recomendado.
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